sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Definição de Espírito e Alma

Na antiguidade grega avaliaram-se as relações da interioridade humana. Foram os filósofos, os principais responsáveis pelas construções dos estudos do pensamento, da busca da verdade com novo enfoque, com uma visão mais concreta dos modelos de sociedade. Passou-se a uma sistematização daquilo que se criava através de novos valores, tendo como destaque, a alma e o espírito humano. Aristóteles (384 – 322 a.C) apud Durant (1942, p. 92), afirmava que,

“A alma é todo o princípio vital de qualquer organismo, a soma de seus poderes e processos”. “No homem é o poder da razão e o pensamento”. A alma é imortal é “puro pensamento” e que (93), a “criação artística surge do impulso formativo e do anseio de expressão das emoções. A forma da arte é em essência uma imitação da realidade; um espelho em face da natureza ““.

Dividiram-se o homem em espírito, alma e corpo, onde o espírito tinha o poder da transcendência, ou seja, ampliar sempre novos conhecimentos, querer mais, a satisfação só seria aceita se inovações surgissem.
A alma ficou nos campos das emoções, do intelecto, das afirmações relacionadas às culturas, da criatividade humana. A alma humana é capaz de criar, de elaborar, de transformar o abstrato através da manifestação das inspirações, contrapondo-se, ou mantendo-se o irreal, o fortalecimento do abstrato, colocando na arte todas as aspirações, humanizando as formas, fazendo das artes, poesias, histórias, elementos de transição do imaginário, para poder tocar, poder sentir e poder ver. A humanização, como forma concreta daquilo que o ser humano imaginava, vagava, criava nos seus inconscientes, transformando em algo palpável, aonde pairavam todas formas anteriores de veneração, em algo agora venerado com a alma, que podia sentir através do contato e dar vazão ao espírito.
Lucrecio (98 – 55 a.C) apud Durant (1942), “A alma e o espírito desenvolvem-se com o corpo, crescem juntamente com ele, doem-se com suas dores e morrem com sua morte. Nada existe à exceção dos átomos, do espaço e das leis naturais; e a lei das leis é a da evolução e dissolução de todas as coisas”.
O que podemos observar é que, almas, espírito, estão dentro das formas da construção, daquilo que vem do interior do ser, daquilo que o homem pode materializar, mostrar, sentir e enxergar.
Aquele homem que foi gerado e concebido por homens, agora é capaz de perceber os seus valores sentimentais, ocultos, sensíveis, simplesmente transformados em obras de artes. Mostram com clareza as formas, a natureza e o poder de concepção que o homem pode ter, transformando as matérias inanimadas em expressão de arte, que são sentidas ao simples contato.
Homens que possuem em seu interior a criatividade, que é comum ao ser racional, ao ser que consegue através dos milhares de anos de evolução, terem manifestado suas vontades. É tolhido em suas criações, quando aquilo que pensam é colocado como vindos de forças superiores, de outros espíritos e de outras almas. Para Demócrito (460 – 360 ac) apud Durant (1942, p. 92), “A alma não é material” – nem toda ela morrerá.
Diríamos que é uma transferência dos conhecimentos humanos, que a partir do momento em que adquirem forma, personalização, não conseguem mais sair do imaginário humano, de acordo com a sociedade na qual está inserida.
Será que o homem é incapaz de aceitar a sua própria criatividade, tendo que colocar como coisas divinas, aquilo que lhe é nato? São coisas que a sua própria condição mental proporciona, em elevar-se a níveis de criação, que quando materializadas, expressam o próprio homem, mas que as estruturas tentam mostrar que o homem seria incapaz, a não ser quando tem uma manifestação externa.
Por que o homem, em sua sã consciência, não pode construir, pensar e racionalizar aquilo que sonha, como se os sonhos fossem de competências espirituais e não de devaneios da própria mente em descanso ou do corpo envolvido pelos seus diversos espasmos musculares?
Porque o homem tem que buscar nos mitos, as forças para tentar compreender aquilo que é natural que é reflexo do seu próprio pensar e que logicamente sofreu reflexos das sociedades?
O que podemos perceber é que, alma e espírito, são forças de criação e fonte de desejos, são momentos de liberdade e de desligamentos, de devaneios, é a materialização de suas utopias e de suas loucuras. Não são as loucuras que a sociedade tenta impor como formas da existência de espíritos como seres alados ou almas de pessoas que já se foram, de coisas que colocam espíritos e almas fora da compreensão humana, de incompreensões que são criadas para justificar o que é justificável. Justificar aquilo que é da essência do homem, sendo colocado como algo intocável e muito bem materializado pelas religiões. Essas conseguem transformar aquilo que é abstrato em concreto, fazendo com que a mente humana se resigne a subjetivar, a alienar-se, sem compromissos com o que há de verdade, limitando-se a aceitar o que se manifesta como verdadeiro.
O espírito, que na sua essência é o poder de querer, poder de elaborar, poder de pensar, é colocado pelas ideologias culturais como aquilo que representa o transcender no abstracionismo, estar vinculado com a morte. Não admite o homem como fonte de suas próprias espiritualidades, palavras nascidas nas filosofias como algo criador, gerado pelo próprio homem. E também não, por aquilo que sobrou dos homens, como restos de sua existência, de suas vidas, dando a ele como compensação, a reencarnação, a ressurreição e vidas paliativas além da vida. Coloca-se a morte como o começo de outras vidas, de vidas eternas, como se os pensamentos pudessem se materializar em outros corpos inanimados e não como a materialização de suas idéias plantadas, semeadas através de criações, do preservar a sua vida nas suas construções, nas suas obras e nas suas artes. A única forma de se ressurgir, de se preservar, é manifestando criações, os seus pensamentos nas esculturas, pintura, arquiteturas, poesias, nos seus livros e assim mantendo-se materializado para que outros possam ver a beleza que foi a sua existência. Caso contrário este homem morrerá, não restando nada além daquilo que será percebido por uma visão mais longe das construções humanas, sem se limitar a um único homem.
O espírito e alma são humanos e não como as sociedades passaram a construir, santificando aquilo que é racional, endeusando aquilo que é fruto das construções do pensamento. Usam o espírito como algo irreal, dando formas a eles, na construção de anjos e demônios, do sobrenatural, iludindo, dominando aqueles em que, na ignorância dos conhecimentos, acabam por serem levados a loucuras, tentando ver o impossível, construindo em suas mentes o que a lógica não permite. Tornam-se doentios em suas fugas, na busca do irreal, na busca intensa de vidas além daquelas que a natureza lhes deu, indo a caminhos opostos à inteligência que a evolução permite, buscando no irracional, as respostas tão necessárias para quem é humano que são respostas para a morte.
A morte que é tida como a chance de se elevar junto a Deus pai, todo poderoso. Deus criado como espírito dos espíritos, capaz de alimentar a todos, de resolver todas as mazelas humanas. De poder alimentar com verdades aqueles que vivem de mentiras. De poder dar vida além da morte, de gerar vidas, de ajudar aqueles que são subjugados pela sua força. De dar garantias eternas, para os homens que buscam a vida eterna, como se isto fosse possível. São incapazes de ver o mundo por outras óticas, de poderem buscar a igualdade humana e não as desigualdades daqueles que vivem mais distantes de Deus ou daqueles que são superiores, à medida que estão mais próximos dele, os chamados eleitos, os escolhidos. Que não questionam as suas realidades já que Deus está acima de tudo e para eles o que existe é a fé. O espiritualismo fruto da natureza humana não se discute, a subjugação da fé deixa de ser questionada.
Aquilo que cegam, que deturpam, que escravizam as mentes, que corroem a alma, que degeneram o espírito, tornando a alma inatingível, quando estes são inerentes ao homem, ao poder de criação. Da busca incessante de respostas e das necessidades humanas em alcançar estas respostas.
As intolerâncias para os que pensam diferentes, o inferno como solução para aqueles que tentam desmistificar o poder das grandes organizações que submetem a sociedade. Os fundamentalistas que entendem ser as suas experiências as mais certas, eliminando e colocando sob as estruturas da passividade os materialistas.
“Homem que tem o poder de tudo, mas é fraco diante do que pode ser verdadeiro, se subjuga na sua ignorância (NA)”.

Como se criam os demônios

Os conceitos da sociedade de modo geral sobre os demônios, trazem o mal como incitações de pensamentos que são contrários ao bem e a ordem. A critica, os conflitos, e a obediência levam a humanidade a estabelecerem relações de discórdias e por fim de alienações. Quando à vontade de uma maioria é mantida se constrói o bem comum, que poderá sofrer alterações se novas idéias surgirem, e se forem de idéias contrárias sob o aspecto da religiosidade poderão estar possuídos melo mal. “Tome cuidado, para que, ao se desfazer dos demônios, você não se desfaça do que há de melhor em você”. (Nietzsche).
Da mesma forma que o homem teve necessidades de criar mitos bons, mas que punem, também teve a necessidade de criar seres malignos, capazes de combater de todas as formas aqueles seres criados com o objetivo de ajudar o próprio homem.
Os primeiros escritos sobre as presenças de seres malignos, se encontram entre os persas.
O homem se condiciona a alguma condições, exatamente para buscar seus avanços evolutivos, prometendo-se a si mesmo, as melhorias em determinados aspectos, como forma de agradar seus deuses. As compensações sempre foram de agradar a seus deuses como: é dando que se recebe. E é através das boas atitudes que nos colocamos mais pertos de Deus. Só que cabe aqui a discussão, de como exatamente devemos operar para estarmos mais perto dele?
Com certeza não é através de atitudes ou condutas determinadas pelas sociedades que estão no poder.
Não existe sociedade mais próxima ou mais distante de Deus, mas sim sociedades mais próximas daquilo que foram idealizadas pelos seus representantes.
Fortalecem-se também as modalidades da formação dos seres humanos, entre eles a dependência da proteção relacionada ao pai, a expressão de uma figura forte, mas que reprime. Isto gera uma relação de conflito. Para Droguett (2000, p. 68), o mecanismo de retorno do reprimido. Este retorno, entretanto, também é inconsciente, já que aparece de forma camuflada e como tentativa de solução para a situação conflitante; assim nasce o fenômeno religioso (...) esse “pai glorificado” converte-se em Deus – Deus onipotente e Todo-Poderoso.
Mas há outra vertente o mesmo autor: a agressividade. Como retorna esta agressividade na religião? Não resta ao ser humano outra solução que “desdobrar” Deus: Deus bom e Deus mau, no paganismo; Deus/demônio, no cristianismo. Nas religiões monoteístas a ambivalência amor-ódio é extremamente difícil de manejar e não resta outra solução que a de criar uma personificação das forças do mal. Criamos assim, uma réplica negativa de Deus, o demônio, ao qual podemos odiar com plena justificação racional.
A democracia, palavra tão bem idealizada, onde determina os poderes de uma maioria, também foi alterada através dos séculos. Sua origem remonta aos mundos gregos, de filósofos que encontravam através dela, formas de estabelecerem-se igualdades.
Da palavra “DEMO”, que significava “POVO”, obteve como alteração das mudanças lingüísticas e das culturas, também devido às religiões que se apoderaram dela, as mudanças ideológicas, onde passou a acrescentar-se o sufixo “NIO”. Daquilo que se entendiam dificuldades, falta de condições, desigualdades, diferenças sociais, classes que eram dominadas, de um povo sofrido e questionador, que pressionavam através de um coletivo, turbas de descontrolados e que tentavam através da união, mudar. Eram então chamados de demônios.
No momento de sua criação, significavam simplesmente o descontentamento dos contrários aos sistemas de governo. Com o passar dos tempos, as ideologias de dominação, passaram a utilizar-se desta expressão como forma de dominar os próprios demônios, impondo-lhes suas vontades e mostrando quanto os poderes dos demônios são ruins para a continuidade de Deus.
Que Deus em momento algum pode ser questionado, ser colocado como um instrumento de domínios, porque se isto acontecer, as instituições que foram criadas para a dominação, devem agir e eliminar estes demônios que divergem de suas idéias.
No passado mais recente da história, tivemos a própria inquisição, elaborada pela igreja católica, eliminavam todos aqueles que dela desconfiassem que pensassem que colocassem suas vontades acima daquilo que lhes era permitido. Portanto o homem foi socializado dentro de forças benignas ou malignas, mas sempre da vontade das estruturas ideológicas que se formaram a partir de grupos que exerceriam seu poder sobre os demais.
Guerras Santas são guerras necessárias sob o ponto de vista daqueles que tem o poder para se colocarem como deuses. Colocado o seu Deus, como o principal defensor de suas terras, de suas propriedades, de seus direitos e do seu poder. Deus, chamado para defender os interesses de fortes e não de fracos.
“Fracos caem sobre os domínios dos fortes, independentemente da vontade ou não de Deus”.
Em momento algum, Deus foi a favor ou contra determinados povos. Os judeus, que se consideram privilegiados por estarem colocados no Êxodo como os detentores da Palestina, não têm exatamente o direito de se identificarem como proprietários divinos daquelas terras, assim como nenhum outro povo o têm.
Na formação do Planeta, não se definiu direito de propriedades para os homens, da mesma forma que não se definiu territórios para nenhum animal. A construção definida foi à lei do mais forte, a lei dos que pensam, a lei dos que tem armas mais potentes, a lei daqueles que tem as tecnologias a seu favor.
Nunca devemos esquecer que as forças são definidas por acumulações econômicas e determinam o poder de quem às tem. E as crenças se criam como forma de defesa. As remoções de montanhas através da fé, sabendo-se ser algo intransponível sem a ajuda dos meio tecnológicos, e somente o próprio homem é capaz de resolver tal situação.
Sem ter a mínima capacidade de avaliar que os excessos populacionais, o descuido com o meio, a destruição da natureza, a poluição das águas, do ar, acabará por destruir o próprio homem. Não havendo deuses e nem um deus capaz de aliviar estes problemas. Não adianta ficar orando, rezando, jejuando, definindo quantidade de preces que poderão salvar o homem, se este não atingir a libertação via educação. Talvez, a única forma capaz de salvar e reduzir as desigualdades.
Não basta argumentar sobre a fé, para aqueles que a utilizam como exercícios de poder. Doutrinas, bíblias e todas as formas de enfatizar a presença de Deus, são criadas. Criadas por homens que dizem estarem agindo sobre o seu poder.
Mas os homens acreditam e se criam nestas neuroses, loucuras descabidas, alicerçadas somente na fé, em fatos considerados para alguns como verdadeiros, hipóteses personalizadas na crença de sua superioridade mortal.
As discussões de determinados assuntos com quem alimentam expectativas religiosas, achando que a felicidade e a solução de seus problemas estão nas relações com Deus. Ainda querem que o Estado ou suas Igrejas resolva tudo, defendendo suas necessidades, esperando o assistencialismo político ou dos céus, ficam a mercê daquilo em que acreditam. São partes de uma sociedade que não querem acreditar que são possíveis transformações a partir de suas próprias atitudes, bastando para isto irem à busca do conhecimento e da independência. Transformam o abstrato em algo que é possível tocar. Dizem-se tocadas, materializam seus sonhos e suas utopias. Criam anjos, espíritos, demônios, almas, sentem que precisam expiar para poderem resolver seus problemas.

Como se fazer a conversão religiosa, política e aspectos religiosos.

O paraíso se busca infindavelmente. São situações utópicas registradas ao longo da história. È o homem buscando melhores possibilidades de vida mas conseqüentemente alcançadas só após a morte. È o fato de querer se manter “vivo” além da morte. Idealiza uma série de benefícios que terá, mas de “coisas” que obviamente teve dificuldade de ter em quanto estava vivo. Todas as dificuldades passadas durante a vida serão materializadas como fruto de seu sofrimento após a morte. Entre as diversas religiões existentes se discutem estas possibilidades, com seus sacerdotes enfatizando tais possibilidades e levando aos crentes a totais desvarios.
Deixam de viverem aproveitando as delícias da vida, para se preocuparem sistematicamente com a morte. Mas recebem todos os tipos de informações sobre os paraísos como, por exemplo, citado por GROF (1996, p. 14);

a paisagem dos céus e paraísos se encontra caracteristicamente inundada de luz branca ou dourada muito brilhante e está repleta de nuvens ou arco-íris luminescentes. A natureza se representa com seus melhores dons: terra fértil, campos de grão maduro, belos oásis e vergéis, jardins exóticos ou pradarias floridas. As árvores estão carregadas de flores esplêndidas e de frutos suculentos. As estradas estão pavimentadas de ouro, diamantes, rubis e esmeraldas e de outras pedras preciosas. Fluem fontes da juventude, mananciais de água da vida, lagos transparentes e rios de leite e mel e óleos aromáticos regam os campos elíseos. A arquitetura celestial é translúcida e abundam os palácios cujos adornos de ouro e pedras preciosas brilham com luz tênue. Os salões estão iluminados com candelabros de cristal resplandecente e decorados com fontes e chafarizes. A atmosfera está impregnada de perfumes suaves e do agradável aroma de incenso.

A capacidade de imaginação dos humanos está embasada sobre parâmetros humanos. Aquilo que não é farto está enquadrado como situações possíveis no paraíso. Não conseguem desprender-se de suas realidades. E quando não conseguem seguidores, mais pessoas atreladas a sua forma de pensar, reagem como por impulso a desejarem que caso não acreditem naquilo que acreditam serão jogadas no inferno.
Observa-se que, o filho oriundo de pais que se autodefinem como convertidos, terá dificuldades maiores para se libertar, já que desde o nascimento é formado para obedecer e seguir a risca, os mandamentos dos livros sagrados, sob a hipótese de estar fora dos padrões delimitados por Deus ou pelos governantes.
Em 1902, William James, em “The Varieties of Religious Experience” escreveu o seguinte a respeito dos estados de profunda depressão espiritual:

mas a libertação precisa chegar sob forma tão forte quanto a queixa, para que tenha efeito; e essa parece ser a razão pela qual as religiões mais grosseiras, revivalísticas , orgiásticas, com sangue e milagres, e operações sobrenaturais, talvez jamais possam ser eliminadas. Alguns temperamentos precisam muito delas.

De acordo com William Sargant, os especialistas em lavagem cerebral usam uma técnica de conversão que não depende apenas da intensificação da sugestionabilidade de grupo, mas também de estimular no indivíduo a ansiedade, um sentimento de culpa real ou imaginária e um conflito de lealdades, suficientemente fortes e prolongados para provocar o desejado colapso.
Alberto de Pirajno descreve em “A Cure for Serpents”,

o método exigia que a pessoa deprimida dançasse até o ponto de frenesi durante horas intermináveis ao som de tambores e de canto rítmico, e com uma crescente excitação de grupo até “uma torrente de espuma e suor escorrer pelos cantos de sua boca”. Com um “grito agudo”.

Jogando-se ao chão, envolvendo os demais, como se algo tivesse entrado ou saído de seu corpo. Se o cérebro é suficientemente excitado, para o Dr. Denis Hill, ocorre uma comunicação do mesmo modo que o toque de tambor vodu ou dança orgiástica em escala suficiente para levar à excitação histérica e colapso por exaustão.
Sabemos também, que certas drogas podem produzir estados místicos. Já são usadas há muito tempo em certas cerimônias tribais, para dar aos participantes a completa certeza de que, um deus os está de fato possuindo.
Ainda durante os períodos em que o ocorreram a Peste Negra, a Igreja Católica considerava a peste como castigo pela iniqüidade geral da Cristandade. Conforme relato de William Sargant, esta recorria à ameaça de seu retorno como meio de levar o povo a um estado de submissão e verdadeiro arrependimento. Com seu assentimento, a Fraternidade dos Flagelantes, também chamados de Irmãos da Cruz, começou a promover reuniões especiais nas quais podiam ser publicamente confessados os pecados e dirigidas súplicas a Deus para prevenção da peste. Os bandos de flagelantes tornaram-se bem organizados e, embora começando como um movimento operário e camponês passou a ser controlados pelas classes mais ricas. Seus métodos para provocar excitação de grupo eram muito eficazes: tocavam sinos, cantavam salmos e flagelavam-se até o sangue correr em torrente. Nos processos de conversão utilizados pelos grandes sacerdotes, é importantíssimo usar da sugestionabilidade de grupo, vislumbrando ao convertido a certeza da salvação eterna, provando, através de gritos e gestos, a existência de poderes diabólicos que poderão afetar o seu caminho normal em direção a Deus. A citação de casos de jovens perdidos, pervertidos, drogados, de casamentos mal sucedidos pela traição, devem ser colocados e exemplificados para facilitar a ligação com Deus. Sendo que, todos aqueles que se desviarem dos preceitos divinos, estarão automaticamente se colocando na posição de tementes a Deus. E a recuperação deve ser feita através de atitudes, que divulguem como está conseguindo libertar-se das necessidades impostas pelo demônio. O grande despertar está em se entregar completamente a Deus.
Para Willian Sargant que descreve os trabalhos psiquiátricos desenvolvidos por Pavlov sobre fenômenos hipnóticos.
Antecipando-se assim à comparação de Pavlov sobre fenômenos hipnóticos em seres humanos e animais, Hecker afirma que suas descobertas “colocam a auto-independência da maior parte da humanidade sob luz muito dúbia e explicam sua união em um todo social”.

Aliada ainda mais de perto à simpatia mórbida (...) está a difusão de excitações violentas, especialmente aquelas de caráter religioso ou político, que têm agitado tão fortemente nações dos tempos antigos e modernos e que podem, depois de uma submissão incipiente, transformar-se em perda total da força de vontade e verdadeira doença da mente.
O medo, as relações familiares, a discórdia. As situações depressivas levam de acordo com William Sargant,

Os padrões básicos de comportamento no homem realmente dependem mais de nossos sistemas nervosos superiores hereditários do que nos mostramos às vezes dispostos a admitir. A personalidade só pode reagir dentro de linhas limitadas a todas as mudanças ambientais e a uma vida cheia de pressões. Se a pressão for muito forte, a personalidade mais segura e estável poderá mostrar sintomas de ansiedade, hipocondria, depressão, histeria, suspeita excitação, raiva ou agressividade, e a lista fica então quase completa.

Para Edwards (2003), há o reconhecimento também das importantes diferenças em tipos de temperamento, que precisam ser consideradas durante a fase de “amaciamento”, antes da conversão: “Há uma variedade muito grande quanto ao grau de medo e aflição a que as pessoas são submetidas, antes de obterem algum confortável indício de perdão e aceitação por Deus”.
Há aqueles que têm menos problemas ou que possuem pensamentos amedrontadores, que despertam com medos tristezas e aflição. Principalmente para os miseráveis que se sentem ausentes de Deus, sendo fácil manipulá-los e convertê-los.
A culpa deve ser provocada para a conversão de pessoas normais, ainda que para ele, deve ser insistida e a tensão aumentada até o pecador entrar em colapso e submeter-se completamente à vontade de Deus. O catolicismo prega aqui a exorcização do crente para a eliminação do demônio que está presente, processos já realizados desde a Idade Média e mantidos durante a Idade Moderna. Sendo estas revigoradas e discutidas pelos eclesiásticos no século XXI (março de 2005).
Pregando os terrores do fogo do inferno e da condenação eterna, sempre tinha em mente que uma via de fuga, constituída pela principal crença a ser implantada, devia ficar aberta:

com efeito, algo além do terror deve ser pregado àqueles cujas consciências são despertadas. Deve ser-lhes dito que existe um Salvador que é excelente e glorioso; que derramou seu precioso sangue pelos pecadores e que é em todos os sentidos suficientes para salvá-los; que está pronto a recebê-los, se o seguirem zelosamente; pois essa também é a verdade, tanto quanto o estarem agora em uma condição infinitamente pavorosa. (...) Os pecadores, ao mesmo tempo em que lhes é dito como seu caso é miserável, devem ser convidados a virem e aceitarem um Salvador, e entregarem seus corações a ele, com todos os cativantes e encorajadores argumentos que o evangelho oferece (Sargant, 1968).

Alguns, talvez, precisem suportar conflitos mentais e tortura durante dias, semanas ou meses antes de sucumbirem e, assim, conquistarem a libertação .
Aqueles que, cumprindo condenações legais, tiveram os maiores terrores, nem sempre obtiveram a maior luz e conforto; nem lhes foi sempre a luz comunicada muito repentinamente; ainda assim, porém, acho que o tempo de conversão foi geralmente mais sensível em tais pessoas.
Não deve ser dada a quem se converte a chance de recuperação imediata. Devem ser forçados a buscarem o perdão, assim estarão na busca incessante deste perdão, ficando sob o jugo da fé.
Para Sargant, na descrição da obra “The Devils of Loudun”, explica que Aldous Huxley encareceu a força desses métodos em discussão:

Nenhum homem, por mais altamente civilizado que seja, pode ouvir durante muito tempo um tambor africano, um cântico indiano ou um hino galês, e conservar intacta sua personalidade crítica e autoconsciente. Seria interessante tomar um grupo dos mais eminentes filósofos das melhores universidades, fechá-los em uma sala quente com dervixes marroquinos ou voduístas haitianos e medir, com cronômetro, a força de sua resistência psicológica aos efeitos do som rítmico. Os positivistas lógicos seriam capazes de resistir mais tempo que os idealistas subjetivos? Os marxistas se mostrariam mais resistentes que os tomistas ou os vedantistas? Que fascinante, que proveitoso campo de experiência! Enquanto isso, tudo quanto podemos prever com segurança é que, se expostos por tempo suficientemente longo aos tantas e cantos, todos os nossos filósofos acabariam pulando e uivando como os selvagens.

Peregrinações e concentrações políticas, evangelizações em massa utilizando estádios de futebol ou grandes áreas abertas ou espaços fechados, com presenças maciças de missionários, pastores, padres e grandes sacerdotes, entoando cânticos, corais, dias de benção ou ainda desfiles patrióticos, são coisas consideradas eticamente corretas, desde que sejam nossas peregrinações, nossas concentrações, nossas evangelizações e nossos desfiles. Quando o delírio da multidão é explorado em benefício de governos e igrejas, os exploradores têm sempre muito cuidados em não permitir que a intoxicação avance demais. Cedemos muitas vezes as nossas escolas para que ocorram estes movimentos – Escolas abertas.
Para Huxley (1963), as cerimônias religiosas e políticas controladas são, porém, aplaudidas por aqueles que dispõem da autoridade, pois oferecem oportunidades para incutir sugestões nas mentes que momentaneamente deixaram de ser capazes de raciocínio ou livre vontade.
A felicidade dos céus e os horrores do inferno são experiências bastante freqüentes em indivíduos sob o efeito de transes ou drogas químicas.
Podemos observar as relações ditas espirituais, que ocorrem como resultado dos envolvimentos, os pregadores fazem seus trabalhos a base de gritos e gestos envolvendo o público, que são afetados pelas palavras, trazendo manifestações psicológicas, George Salmon (1859) cita fenômenos que apareciam no Grande Revival, no Norte da Irlanda.

Homens fortes romperam em lágrimas; mulheres desmaiaram e entregaram-se à histeria. Os agudos gritos daqueles que em altos brados pediam piedade e a agonia mental de que sofriam eram talvez mais comoventes do que se poderia imaginar. Os penitentes jogavam-se no chão, arrancavam os cabelos, aglomeravam-se em toda a volta para rezar por eles e pareciam ter a mais intensa convicção de seu perdido estado à vista de Deus.

Podemos perceber que quando se juntam pessoas, alguns têm tendências a mostrar com mais fidelidades e veemências seus sextos sentidos, aonde outros acreditam nas realidades demonstradas e passam a manifestar sentimentos semelhantes.

O que é religião e o que são seitas?

É muito comum observar-se estes tipos de discussões.
Podemos observar que dentro das reações humanas, tendemos a valorizar mais aquilo que é nosso. Portanto religião sempre é aquela que detém o poder de uma maioria. E são defendidas sem o livre pensar, sem coesão de idéias. Pode-se até guerrear para ver qual das seitas é realmente religião. E aqueles que saírem vitoriosos destas guerras, demonstrarão com fidelidade à força de suas religiões. Para os perdedores, naquele momento, ficará a alternativa da manutenção de suas seitas, até que em outro momento, fortalecidos, sairão vencedores e com suas religiões agora no poder mental, cultural e dominado as massas daqueles que ainda não possuem nem seitas e nem religiões. Desta forma, poderão mostrar as suas capacidades de convencimento, de quanto próximos de Deus estão e de como apoiados em cima de escritos, de velhos e novos testamentos, podem provar que sua religião é a mais forte, que está mais perto de Deus, que pode mudar a história dos homens, que tem poder e representam justamente à vontade d’Ele.
A implantação de idéias, conceitos no cérebro humano dependem muito de seus catequizadores e educadores.
Conservamos a necessidade de uma figura todo-poderosa que mantivesse o grupo sob certo controle e a vaga foi preenchida com a invenção de um deus. Dessa forma, a influência da figura deus inventada podia funcionar como uma força complementar da influência progressivamente decrescente do chefe do grupo.
A primeira vista, surpreende como a religião tem tido tanto sucesso, mas o seu enorme poder dá-nos apenas a medida da força da nossa tendência biológica fundamental, herdados diretamente dos macacos e símios nossos antepassados, para nos submetermos a um membro do grupo dominador e todo-poderoso. Ainda para Morris (2004, p. 203), por esse motivo a religião tem-se revelado extremamente valioso como mecanismo de coesão social, e é mesmo possível que a nossa espécie não tivesse progredido tanto sem ela, dado o conjunto especial das circunstâncias que acompanharam a nossa evolução.

A fé

Para Droguett apud Wittgenstein (2000, p. 82), quando fala de fé afirma que não se trata de um assunto de experiência, ou seja, de verificação da objetividade do significado: isto não tem sentido religioso.
Droguett ainda afirma que nem o significado externo (objeto) é empírico, nem o interno (conteúdo) é conceitual. Para esse autor, a fé não é um ato (ou estado psíquico) temporal, momentâneo (...), ela se apresenta regulando tudo na vida de uma pessoa. Daí o grau imutável da fé religiosa; arrisca-se por ela o que não se arriscaria por nenhuma outra coisa. A verdade religiosa é veracidade, a vida que impõe os conceitos, a teoria. O crente não é racional, sua fé é uma loucura confessa e assumida.

APOCALIPSE? Criações apocalípticas

As maiorias das informações foram provenientes de uma relação primitiva de feitos realizados pelos antepassados, a construção da cultura e educação das sociedades iniciaram dentro das relações familiares cotidianas para uma relação universal. Entendendo-se o universo infinitamente menor do que o conhecimento do século XXI, que tem seus espaços condicionados a globalização. As narrativas se transformavam em realidades, e os limites eram puramente o da imaginação. Tudo se transformava em relações metafísicas, os homens pouco se distanciavam de seus deuses, tendo seus sacerdotes poderes de dominação infindáveis. As criações apocalípticas são oriundas de diversas religiões, mas anteriormente faziam parte da construção das idéias humanas quanto à visão de um provável fim daquilo que foi criado. Não só as visões hebraicas contribuíram com isso, mas seus antecessores babilônicos e outros. Também no Novo Testamento, com o “apocalipse” tratado como algo final, mas que perdoaria os bons, aqueles não pecadores. Já podemos ver citações na religião judaica que narra desde o nascimento de Adão, conforme Eliade (2000 p. 31), “O apocalipse adquiriu formas destruidoras da humanidade não crente, aqueles que não acreditarem serão julgados e jogados na eternidade da infelicidade”.
Teorias se criaram no passado que determinavam os fins do mundo ou as transformações que acarretariam problemas frutos da proliferação humana, para Thomas Malthus (1766) o crescimento demográfico traria problemas para o planeta, já que as religiões preservam o nascimento sem considerar as proporções geográficas, impondo a este a possibilidade de destruição.
Hoje se trabalha o apocalipse dentro das instituições religiosas como uma condenação normal pela qual a humanidade deverá passar. A espera de um cataclismo que anulara toda a humanidade, preparando o caminho para o advento de uma espécie humana nova e regenerada, a ressurreição ocorrerá, subtraindo-se o mal, eliminando-se o demônio, dragões, etc., e haverá um lado de abundância; não haverá mais fome; o mundo será puro, o homem libertar-se-á da oposição (do mau espírito) e será para sempre imortal, é uma tradição que vem desde a babilônia, do dilúvio . Para os semitas as idéias não eram diferentes, também ficava a espera do caos e da modificação deste mundo ruim em outro melhor. Mas em contrapartida não se estimula o controle da natalidade. O crescimento continua dentro de sua anormalidade. Como ratos aumentam e se reproduzem. Já são comprovados cientificamente o fim da água e o fim de muitos minérios e o total afetamento da natureza. Mares e rios se infestam de detritos de todos os tipos de poluição produzidos pelos humanos.
Droguett (2000, p. 83) “A linguagem religiosa é diferente da linguagem da ciência. Nela não se fala de “opinião” – sobre o Juízo Final, por exemplo – nem “de saber” nem de ”hipótese”, nem de “probabilidades”. Fala-se de “dogma”, de “fé””.
A fé cristã em fatos históricos não é a crença que temos nós mesmos ordinariamente. O único sentido da fé é sem sentido.
O comércio está acima de tudo e a produção de alimentos cada vez utilizando espaços maiores. Conseqüentemente a destruição de várias formas da manutenção da vida na terra. Os campos se enchem de produções agrícolas, milhares de animais são mortos diariamente para sustentar a humanidade, veículos são criados dia-a-dia, indústrias de todos os tipos nascem diariamente, sem considerar as possibilidades de sustentabilidade do planeta. Não há necessidade de se acreditar em apocalipses , quando o próprio homem está criando as possibilidades de seu fim. As guerras fazem parte da irracionalidade humana e são as soluções para a busca daquilo que faltam como petróleos, águas, produção de alimentos, necessidades de novos espaços. E o extermínio diário de várias espécies de animais. Não basta se ajoelhar em uma igreja e pedir para que Deus ajude, quando o próprio homem dentro de suas inconseqüências não é capaz de frear seus egocentrismos.
A primitividade humana vinculou o homem aos mitos, para Eliade (2000, p. 32), o homem busca a continuação de sua existência através de símbolos que geram a realidade absoluta, como árvores da vida e da imortalidade, fonte da juventude (...), peregrinação aos lugares santos (Meca, Hardwar, Jerusalém, etc.); peregrinações aventurosas das expedições do Velo de Outro, das Maças de Ouro, da Erva da Vida, etc, prisões em labirintos; todas as dificuldades dos que procuram o caminho para o “si”, para o “centro” do seu ser. O caminho é árduo, semeado de perigos, porque é, efetivamente, um rito da passagem do profano ao sagrado; do efêmero e do ilusório à realidade e à eternidade; da morte à vida; do homem à divindade. O acesso ao “centro” corresponde a uma consagração, a uma iniciação; a uma existência, onde profana e ilusória, sucede agora uma nova existência, real, duradoura e eficaz.
Ainda para o mesmo autor (2000 pp. 36-37) todos os costumes e cerimônias familiares, sociais, nacionais e religiosas devem ser observados segundo (...) os costumes estabelecidos e as leis da tradição oral transmitidas pelos antepassados (...). Entre os primitivos não só os rituais têm um modelo mítico, como toda a ação humana adquire significado na medida em que repete exatamente uma ação realizada no principio dos tempos por um deus, um herói ou um antepassado.
Elementos que produziram na humanidade gestos de buscas de liberdade acabaram-se enquadrando como salvadores, verdadeiros messias e cultuados até hoje sob o jugo da fé, aproveitados pelas instituições com caricaturas capazes de personificação divina. Vemos atos profanos pela linguagem das religiões, mas aceitas por estas, já que espelham os seus mitos e são determinantes das suas realidades enquanto devoradoras das almas pecaminosas.
Mircea Eliade (p. 47) comenta que São Tomás de Aquino constrói o homem a perfeita imagem de Deus. Voltaire diz que é difícil imaginar tão alto egocentrismo, onde o homem entende que Deus sendo a sua imagem deveria ter dificuldades em ver este saindo de uma mulher e por vias tão naturais.
As crenças de que alguns homens eram diferentes e possuíam forças capazes de lutar contra o bem e o mal os tornavam homens semi-deuses gerando a mitologia grega.
As histórias faladas mudam no transcurso do tempo e as instituições religiosas tendem sempre a querer a achar significados e respostas para aquilo que cientificamente não conseguem. A fé se estabelece como força incondicional de respostas. Para Eliade (2000 p. 58) para se criar um herói popular; bastou um acontecimento particularmente heróico para a imaginação coletiva o assimilar e o identificar com o arquétipo tradicional (...).
Para ele a memória coletiva, ou seja;

a memória dos acontecimentos históricos e das personagens autênticas modifica-se ao fim de dois ou três séculos, a fim de poder participar no modelo da mentalidade arcaica, que não pode aceitar o individual e só conserva o exemplar. Esta redução dos acontecimentos a categorias e das individualidades a arquétipos, efetuada pela consciência das camadas populares européias até quase aos nossos dias, processa-se de acordo coma ontologia arcaica. Poder-se-ia dizer que a memória popular restitui à personagem histórica dos tempos modernos o seu significado de imitadora do arquétipo e de reprodutora dos gestos arquétipos – significado esse de que os membros das sociedades arcaicas estavam e continuam conscientes, mas que foi esquecida.

Ficam no folclore e nas lembranças, sendo revividas a todos os anos como agradecimentos pelos bons resultados dos bens recebidos ou por aquilo que poderá ser recebido no ano vindouro. Vários amuletos são construídos, cores de roupas passam a serem importantes, gestos ou atitudes. A expulsão anual dos demônios, doenças e pecados, oferendas para santos ou deuses são jogadas ao mar ou deixados em cachoeiras, florestas, rituais dos dias que precedem o Ano Novo e os que lhe seguem, no capitalismo passarem com dinheiros nos bolsos darão resultados de enriquecimento no ano seguinte. Abençoar carteiras de trabalhos para os desempregados, ter imagens, trevos, ferraduras, pés de coelho e outros significados trarão a sorte. E com símbolos se montam estruturas ideológicas para preencherem e dominarem as mentes ansiosas de soluções.
Eliade (2000 p. 69), diz que:

o ano novo é sempre uma retomada do tempo no seu começo, ou seja, uma repetição cosmogonia. Os combates rituais entre dois grupos, a presença dos mortos, as saturnais e as orgias são elementos que denotam, que no fim do ano e na véspera do Ano Novo se repetem os momentos míticos da passagem do Caos à Cosmogonia .

Estes fatos são comemorados ao passar dos milênios, ainda para Eliade (2000 p.69),

A cerimônia do Ano Novo babilônico é bastante esclarecedora neste aspecto. Podia ser celebrado em épocas de acordos com as plantações, a sua ideologia e a sua estrutura ritual existiam já na época suméria. E foi possível identificar sistemas desde a época acádica. O soberano tinha um papel importante, uma vez encarado como filho e vigário da divindade na terra; como tal era responsável pela regularidade dos ritmos da Natureza e pela harmonia de toda a sociedade.

Casamentos, desregramentos sexuais, purificação coletiva pela confissão dos pecados, expulsão do bode expiatório, consagração da nova colheita, comemoração da vitória sobre a “Morte”, tudo isto eram momentos de um vasto sistema cerimonial.
A história como conhecimento e estudo científico são complexos e deixa feridas profundas na construção de novas relações sociais, o crente não consegue conceber que novidades sejam incluídas no seu formato de pensar. Se aquilo que é descoberto vir de encontro aos mitos existentes é facilmente absorvido, mas se for contra é facilmente esquecido. Barreiras mentais são formadas com o instinto de proteger o que se tem como relações divinas. É inaceitável discordar do existente. Para Eliade (2000 p. 62), “Na medida em que deixa sugestionar pela “história”, o homem moderno sente-se diminuído pela possibilidade dessa sobrevivência impessoal. Como pessoa ele precisa estar afetado pelo sobrenatural”.
O homem arcaico tenta opor-se a história, já que nada pode contra as catástrofes cósmicas, contra as derrotas militares, as injustiças sociais ligadas à própria estrutura da sociedade, ou contra as desgraças pessoais, sendo mais fácil aceitar os mitos.
Entre o fortalecimento dos mitos se construíram os presságios que fazem parte do cerimonial da história do homem, é comum há todos os anos virem a nos dar informações de como será o ano seguinte, fatos bom e mau que ocorrerão. Que estão predestinados as seguintes pessoas a morrerem ou catástrofes ocorrerão. E muitos perseguem como se verdadeiros fossem. No final do ano se avaliam se houveram acertos ou erros e aqueles que mais se aproximaram serão colocados nos tronos da sabedoria. Ganharão para isso, e cobrarão de outros que quiserem ter certezas de como será sua vida.
Para Eliade, (2000, p. 101), 'Tal como o místico e o religioso em geral, o primitivo vive num presente contínuo (E é neste sentido que podemos dizer que o homem religioso é um ‘primitivo’, pois repete os gestos de um outro e, por essa repetição, vive continuamente num presente atemporal)”. Conforme (p. 105), mas temos motivos para acreditar que para os “primitivos”, a nostalgia do paraíso perdido exclui definitivamente o desejo de regressar ao “paraíso da animalidade”. Tudo o que sabemos acerca das recordações míticas do “Paraíso” mostra-nos, pelo contrário, a imagem de uma humanidade ideal, gozando de uma beatitude e plenitude espirituais inalcançáveis na condição atual do “homem pecador”.
O batismo, a transformação do pagão em crente. A liberação do mal em substituição ao bom. O batismo como algo renovador, eliminador dos pecados, a morte do homem antigo, seguindo-se o nascimento do novo homem, adaptado à religião que o está esperando e recebendo, para dar-lhe as soluções necessárias para viver neste mundo, eliminando todos os percalços existentes. E que somente será modificado pelo seu livre arbítrio. Se acertar é porque está junto com Deus e com a sociedade. Se errar, errou porque quis e caminhou contra as imposições sociais e de Deus.
E para tantas outras uma vida cheia de sofrimentos levarão a eternidade os que se limita a não questionar, tendo a aceitação como o ponto forte da subida aos céus.
Criaram-se condutas, mantiveram-se posturas ultrapassadas que impediram o ser humano de raciocinar, mantendo-o desinformado. Desta forma, fazendo com que o ser humano ficasse em total letargia que não consegue ver outros mundos a não ser aquele formado à sua volta.
Mantém-se uma estrutura de dominação muito forte, como uma doença que impregna a mente e o corpo de outras instituições.
Diríamos que todas as religiões possuem os mesmos objetivos, sem demonstrar claramente seus anseios, já que mesmo os seus líderes, entendendo a sua vinculação com deus, acabam por se iludir e iludirem aqueles que os segue em total ignorância a novos conhecimentos.
A forma de dominação se manifesta na sociedade através de pressões com tendências a valorizar o poder central, seja ele político, religioso ou em ambos os casos de governos totalitários e centralizados.
No cristianismo a espera da Ressurreição, dentro do catolicismo estar sentado ao lado direito de Deus pai todo poderoso.
Para o judaísmo a espera de um messias se eterniza.
No mundo islâmico, as benesses de uma vida além túmulo, banhado em todo conforto que não possuiu enquanto vivo.
No budismo, a reencarnação como solução e em todas as religiões “a morte sendo melhor que a vida”.
Muitos jovens intelectuais mais corajosos temem acima de tudo, na medida em que vão sendo reconhecidos, incorporados e utilizados, entregar-se ao mero conformismo, deixando de ser criativos e verdadeiramente úteis (Hofstdter 1967).

Nos dias atuais vivemos também de mitos, de muitos mitos, mas não enxergamos como mitos, mas sim como relações verdadeiras com Deus. Precisamos ter messias e filhos de deuses que convivem conosco, e para isto levantamos igrejas em seus nomes. Passamos nossa vida adorar e a esperar seus nascimentos, suas reencarnações, as suas vindas como se fosse possível homem e espíritos conviverem em harmonia num mesmo espaço. A consciência humana cria relações impossíveis para poder justificar os seus medos.

Evolução da cultura para a educação

A educação é um processo que permite ao ser humano descobrir ou modificar sua própria realidade.
Para Nassif apud Villalba (2007), “A educação é a ação de um homem cabal sobre um homem total”.
Historicamente as assimilações culturais, modelos éticos e morais foram se transformando e adequando as sociedades, a educação passou por vários estágios e modelos até se constituir no atual, analisando-se a ocidental a partir de suas diversidades culturais, tendo como base a filosofia cristã, e uma apropriação da aceitação das imposições do estado e da igreja.
Platão (427-347), na construção da Utopia, dizia, em todos os casos deve-se dar às crianças, desde o princípio, completa igualdade de possibilidade educativa; impossível prever onde vai surgir a luz do talento ou do gênio; devemos procurá-la por toda a parte, imparcialmente, em todas as raças e classes sociais. O primeiro passo no caminho a trilhar é a educação generalizada.

Não podemos ficar emoldurados na construção de uma educação sobre o ponto de vista aristotélico na qual “a educação deve ficar na mão do estado, o que mais contribui para a permanência das constituições é a adaptação da educação á forma de governo... O cidadão deve ser amoldado á forma de governo sob a qual vive”. Pensamentos que muitas vezes norteiam as nossas instituições educacionais. Ou seja, as próprias vocações são atribuídas na construção da sociedade, que buscam incessantemente saberem qual é a sua função enquanto produtor (ou reprodutor) nas necessidades básicas, para que isto transformado em capital, beneficie o seu próprio país.
A educação para se constituir em formadora de opiniões teve necessidade de se vincular ao conhecimento histórico, com isto, a pedagogia de forma geral deve transferir conhecimentos oriundos da formação da base da sociedade. As relações vivenciadas pelos seres humanos em todos os seus estágios devem ser discutidas nas salas de aula para promover idéias de como estas sociedades se comunicavam e trocavam experiências. A emancipação deve ser fortalecida a partir dos primeiros anos da educação, permitindo ao aluno interação com as verdades estabelecidas. O mundo do imaginário está implícito, mas, com uma educação salutar, onde se tentar sempre a criticidade e estabelecer-se a razão. Permitindo ao aluno exercitar suas capacidades empreendedoras, a finalidade da educação é através do conhecimento da história poder ver a construção de sua própria história, sendo ele aquele que intervirá na transformação da sociedade.
A educação tem como origem os cultos às histórias dos antepassados, contadas de pai para filho. E depois de documentada através de desenhos, imagens, mais tarde transferindo-se para pergaminhos, no mundo moderno a prensa e na atualidade todas as facilidades de meios digitais possíveis.
Devemos como professores trabalhar uma didática histográfica que se desenvolva através da pesquisa, levando o aluno à investigação e o conhecimento da sociedade em todos os momentos.
Na ciência da educação se faz necessário à construção histórica da sociedade estando entre as obrigações do cientista a busca de informações corretas, fundamentadas e embasadas nas conquistas e perdas de espaços provocadas pelas regras manifestadas por governos que permitiram ou impediram a educação como emancipadora do ser humano. Conhecendo a história o educador tem maiores possibilidades de estabelecer linhas de pensamento que facilitem a inclusão de sua disciplina como algo que venha a mudar e trazer novas idéias, compondo e estruturando novos caminhos a serem percorridos pelos envolvidos com a educação.
Na educação do século XXI, muitas são as ações que devem ser tomadas pelos educadores para quebrar os paradigmas existentes.
Conforme Olavo de Carvalho (2006), a vida acadêmica está contaminada pela filosofia de resultados políticos.
Para que o aluno seja um agente de transformação ele deve receber informações que contribuam com seu crescimento crítico, mas isto, só se dará se o corpo docente perceber sua construção acadêmica dentro de modelos autoritários, e que não só de uma educação voltada ao trabalho teremos mudanças na cultura de um país, mas, sim de uma educação voltada ao conhecimento histórico dos processos de que cercearam as sociedades desde os princípios mais remotos, sempre em função do detrimento do conhecimento de pequenos grupos da elite.
Na filosofia de Maritain apud Villalba (2007), a educação deve preparar para a vida, colocar a criança em contato com os interesses da humanidade. Sendo que a racionalidade é o maior bem do ser humano e deve ser para direcionar sua natureza instintiva. O trabalho da educação é adaptar o homem à verdade que é eterna.
Na sociedade dos países emergentes ou dependentes economicamente. Os processos produtivos passam por rápida transformação, diante da necessidade constante da atualização e revisão dos pressupostos da acumulação capitalista, marcado pela incorporação massiva da ciência e da tecnologia como microeletrônica, biotecnologia e novos materiais como força produtiva direta. Também na educação de países desenvolvidos, levando a toda a população os mesmos níveis de conhecimento e não limitando somente as elites.
Podemos observar que através do documento da Unesco de 1998, muitas imposições dos países ricos são imputadas aos países subdesenvolvidos ou emergentes. O que fica claro é que seguimos orientações internacionais, que nos obrigam a desenvolvermos políticas educacionais nos moldando as realidades mundiais. Dentro de culturas absorvidas dos europeus durante estes mais de 400 anos, que acatamos com muita facilidade. É mais fácil seguir aquilo que nos impõem do que discutirmos a nossa própria realidade. A cooperação como parte integrante das missões institucionais e o estabelecimento dos sistemas de ensino superior, onde as organizações deverão ampliar suas ações para desenvolver projetos de cooperação interuniversitárias promovendo a cooperação internacional. A UNESCO e outras organizações por meio de programas de cooperação bilateral e multilateral deverão mobilizar os estudantes a nível internacional como meio de compartilhar esse saber para promover a organização. Questões aparecem, com freqüência sobre o novo paradigma da educação para busca da compreensão das implicações das mudanças tecnológicas, organizacionais e gerenciais para o trabalho humano.
De acordo com o Convênio Constitutivo do FMI e do BM, são objetivos básicos do primeiro, entre outros: a) fomentar a cooperação monetária internacional; b) facilitar a expansão e o crescimento equilibrado do comercio internacional...; c) fomentar a estabilidade cambial e ajudar a estabelecer um sistema multilateral de pagamentos para as transações correntes entre os países membros. Os objetivos do BM, entre outros: a) contribuir para a reconstrução e o desenvolvimento dos territórios de seus Estados membros e estimular o desenvolvimento dos meios e fontes de produção nos países de escasso desenvolvimento; b) fomentar inversões privadas de capital no estrangeiro e complementá-las; c) promover um crescimento equilibrado, no longo prazo, (...) aumentando a produtividade, elevando o nível de vida e melhorando as condições de trabalho em seu território, vemos o direcionamento total para o trabalho. Esses objetivos do BM seriam alcançados via empréstimos diretos dos países membros para empresas públicas ou privadas, participação nesses empréstimos e seu aval, envio de especialistas para estudo da situação econômica e financeira dos Estados, e ajuda técnica nestas matérias e na formação de pessoal qualificado para geri-las. (Solé, 1994, p. 4-5).
A ação do BM tem sido vista, em geral, como muito negativa, por ter financiado “um tipo de desenvolvimento econômico desigual e perverso socialmente, que ampliou a pobreza mundial, concentrou renda, aprofundou a exclusão e destruiu o meio ambiente”. (Soares, 1996, p. 17).
A adoção de um sistema baseado na estabilidade dos tipos de câmbio e a convertibilidade externa das moedas se teria revelado “logo inviável e autodestruindo-se nos primeiros anos setenta, tendo sido, como se sabe, decisiva a atuação dos EUA, vulnerando assim suas obrigações enquanto era, paradoxalmente, o principal artífice do sistema”. (Solé, 1994, p. 6).
Portanto, é fácil concluir como nossos modelos de educação nascem, colocando em nossas mãos o trabalho de transformarmos a educação em emancipadora, permitindo ao nosso educando ser crítico e ao mesmo tempo empreendedor. Nos países subdesenvolvidos continuamos gerando mão-de-obra qualificada para atender aos interesses internacionais. Sem pensar nas deteriorações do planeta, porque tudo parte do econômico. Enquanto isto ideologias que levam a credibilidades se manifestam de forma surpreendente dentro do irracional humano. O processo ensino-aprendizagem não é situacional, mas também pessoal e psico-social, com isso a necessidade de se entender as relações abstratas e ideológicas das sociedades. Segundo Celso Antunes (2005), a escola é o lugar onde se constrói saberes, solidifica os conhecimentos até então acumulados, edifica a cultura, desenvolve conhecimentos, aprimora capacidades, descobre e aperfeiçoa competências e estimula inteligências.
A educação de forma geral de países emergentes ou subdesenvolvidos tem que ter a clareza de estarem trabalhando no sentido da emancipação da sociedade. Platão, apud Durant (1942, p. 46), “(...) pois um homem livre tem que livre também na aquisição de conhecimentos”.
O que vemos é que nas sociedades a educação vem infiltrada de diversos elementos, entre eles a cultura. Na atualidade estas culturas se moldam em modelos enraizados na corrupção e na engenhosidade das instituições religiosas que através de suas influências modelam a educação de acordo com seus interesses, impregnando o cérebro ainda infantil, e, que no passar dos anos não consegue se liberar mais.
Não é justo que se mantenham os mesmos modelos que se manifestaram durante o processo de colonização, sob a ótica de que hoje estamos livres. É claro que as influências herdadas de subordinação ao sistema ainda estão enraizadas fortemente dentro de nossas instituições de ensino.
As dominações exercidas por grupos que sempre quiseram se manter no poder, inclusive dentro das organizações educacionais fazem com que a formação superior sirva de sustentação e manutenção de forças que dizem como deve ser encarado o trabalho, e a função final junto aos acadêmicos.
Muitos profissionais que ainda mantém modelos ultrapassados nas formas de ensinar, achando que seus valores vão construir uma nova realidade da educação, são exatamente aqueles que permitem a continuidade daquilo que está aí construído.
Disciplinas humanas devem preparar-se para rever as realidades que transmitem, devem seus professores estar impregnado da realidade liberando-se de suas crenças e desvios político, que muitas vezes interferem nas transferências de conhecimento.
Os cursos superiores devem oferecer análises criticas tendo seus professores preparados para tal realidade.
Coordenadores, reitores, ocupam cargos não percebendo que o que fazem é a manutenção do poder da elite, hoje muitas vezes mais internacionais do que do próprio país, mas, felizmente possuem catedráticos que buscam a emancipação com muitas dificuldades, porque são na maioria das vezes tem barradas suas idéias. Principalmente se forem universidades particulares em que suas atuações determinam a vontade das elites constituídas.
Para Pinto (1986, p. 27), “Toda a universidade é cúmplice da exploração que pratica, e ao mesmo tempo conserva essas posições de reserva, para nelas alojar qualquer elemento intelectual mais capaz, o qual deixado aos impulsos da própria sinceridade, talvez viesse a se rebelar contra a situação vigente”.
Diríamos que não é somente a Universidade, mas todo o sistema educacional está intrinsecamente influenciado por idéias e tradições de condições que ainda mantém os sentimentos colonizadores de nosso passado. Já que Universidade é a responsável pelos profissionais que coloca no mercado, muitas vezes despreparados pelas reais necessidades que os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento necessitam e impossibilitados de discutirem determinados assuntos, porque as formações escondem ainda fatos consideradas pertinentes no conhecimento econômico, social, político e religioso. São meros expectadores, quando deveriam ser produtores, criando uma educação aberta as pesquisas cientificas e desmembrados dos sistemas ideológicos dominantes. O que formamos são trabalhadores, raramente pensadores. E os pensadores quando alçados a condição de administradores, acabam cometendo os mesmos erros, já que suas estruturas não têm poder para alterar o que está constituído. Já que uma grande maioria daqueles que vai coordenar, ainda, pensam, de formas retrogradas e ineficientes.
Conforme Pinto (1986, p. 25), “A universidade representa o instrumento mais eficiente para assegurar o comando ideológico da classe dirigente ao lado de outros, subsidiários, como a imprensa, o púlpito, etc, porque ela incumbe a produção dos próprios esquemas intelectuais de dominação”.
A responsabilidade da educação é determinante na construção das liberdades, para Pinto (1986, p. 29), “A universidade absorve e amortece o surto da consciência popular, representado pelo elemento estudantil descomprometido com os poderosos. Transformando a todos como produtos genéricos que vão atuar em prol do crescimento das economias na maioria das vezes de empresas estrangeiras”, e com isto, a dominação religiosa é de suma importância, para poder manter o povo e vários grupos da sociedade dentro de seu marasmo mental, e alienados ao processo.

Formação cultural

Na sociedade em que estamos inseridos adquirimos as experiências e conceitos com facilidade e com dificuldades, mas principalmente nas informações dadas pelos que estão mais próximos a nós. A aprendizagem é feita por transferências de informação e imitação. Temos nossas relações instintivas, mas não nos limitamos somente a isto, mas também na observação. Muitas informações são incorporadas durante a nossa vida, sendo a sua maioria durante as idades iniciais.
As informações são coletadas e transformadas em símbolos, que se intensificam e se tornam absolutamente reais, situações abstratas confirmam-se diante de dúvidas trazendo respostas e significados. Para Morris (2004, p. 133),

é essa imutável obediência a tais impressões (a par dos nossos instintos cuidadosamente dissimulados) que torna tão difícil que as sociedades mudem os respectivos costumes e ”crenças“. Mesmo perante novas idéias, excitantes e brilhantemente racionais, baseadas na pura aplicação objetiva da inteligência, a comunidade ainda se manterá agarrada a antigos hábitos e preconceitos caseiros.

Na formação cultural, os mitos são de exclusividades locais. São construções das necessidades de um determinado momento e de uma determinada história. Podemos citar como um dos modelos, a civilização da Antiga Grécia aonde conforme Pouzadoux (2001, p. 4, caderno de informações) o mito se transforma em realidade, porque
a natureza inteira, entre os gregos antigos, estava relacionada com as potências divinas. Os rios e florestas eram habitados por ninfas, que os homens respeitavam tanto quanto respeitavam os deuses. As tempestades, os raios e o trovão eram interpretados como sinais da cólera de Zeus. Cada divindade tinha seus atributos e suas funções. Todas as atividades humanas eram representadas por um deus ou uma deusa.

Eis como se apresentava essa sociedade divina, também chamada Panteão . Suas criações faladas ou escritas se vinculavam às suas realidades. Não servem para outras sociedades, mas no processo de expansão intelectual ou comercial invadem outras sociedades e tentam se impor. Trazendo manifestações condições divergentes que irão se impor de qualquer forma.
A conformidade com a construção ideológica faz com que a sociedade não reflita sobre as formas de dominação existentes, a política e a religiosidade se manifestam de acordo com os jogos de interesse. Sendo mais fácil se alienar ao sistema, porque a formação de resistências pode trazer conseqüências e perseguições àqueles que tentam formar novas ordens de pensar, ou melhor, reordenar o pensamento criando ou gerando expectativas. Conforme Durkhein (1917), primeiro se assimila e depois se acomoda. A diversidade constrange, e é preciso o amparo de instituições democráticas que viabilizem o desenvolvimento intelectual do homem.
A contradição é um dos fatores que faz com que a sociedade atinja níveis de transformações sociais. Dela se alteram conceitos e regras. A importância deve-se ao fato de se desatrelar de conceitos existentes.
Não podemos exercer julgamentos sobre culturas, já que as sociedades diferem culturalmente uma das outras.
Mas sabemos que determinadas culturas extremamente rígidas resultados de escravidão, e processos de alienação de grande duração, levam à repetição imitativa, conforme Morris ‘Nos nossos dias existem numerosos exemplos de culturas exageradamente rígidas ou exageradamente insensatas. As pequenas sociedades atrasadas, completamente dominadas por pesadíssimos tabus e costumes antigos, são exemplos das primeiras’.

Essas mesmas sociedades tomam-se rapidamente exemplos do segundo tipo, quando são convertidas e “ajudadas” pelas civilizações avançadas. O impacto súbito de novidade social e de excitação exploratória submerge as forças estabilizadoras da imitação ancestral e desequilibra a balança para o lado oposto. Daí resulta confusão e desintegração cultural. Feliz seria a sociedade que adquirisse gradativamente um equilíbrio perfeito entre a imitação e a curiosidade, entre a escravatura da aceitação cega da imitação e a experimentação progressiva e racional (Morris, 2004, p. 134).

Não há comparações tecnológicas, mas somente desenvolvimentos alterados por relações, sejam elas de ordem capital, de exploração, ou superioridades bélicas. Estes desníveis de estágios se engrenam de tal forma que a dominação é exercida no inconsciente dos dominados, sofrendo penalidades aqueles que discordarem de tais processos. As dominações são exercidas das mais diversas formas, alterando ou mantendo as culturas de acordo com a vontade de seus exploradores. Em uma relação de poderes tecnológicos, desenvolvidos e subdesenvolvidos se complementam e sofrem influências de quem os governa ou de quem os governou. Suas realidades são de acordo com os seus desenvolvimentos. Opressões também são exercidas sem necessariamente haver percepções sobre o que ocorre pelos envolvidos. Exemplo, o escravo não percebe que é escravo, a não ser que compreenda o que é ser livre. Sendo escravo são criadas formas culturais, provando que ele é escravo por merecimento, por não ter certas condições que a liberdade para ele seria completamente desmotivadora de suas expiações. E sem estas condições não poderia alcançar os propósitos que lhe foram impostas como a libertação de sua alma, muito mais importante do que sua vida.
As religiões são formas culturais do impedimento emancipatório das civilizações. Entre elas o cristianismo no seu início era formado por críticas a uma sociedade escravocrata e imperialista, como a romana. A união dos escravos e dos despossuídos, formaram grupos de descontentes que passaram a ser chamados de cristãos e o estado romano percebendo a sua fragilidade, passou a adotar, a partir do século IV, idéias que relacionavam este passado de lutas com a religião.
O catolicismo, criado com fins de apaziguar estas situações, desde o final do século IV, pondo fim às lutas idealizadas pelos desiguais, está aí, colocando suas ideologias em prática, fascinando, criando ilusões, destruindo a razão, a lógica, mantendo as tradições, os mitos e culturas ultrapassadas. Com isto todas aquelas igrejas cristãs que foram formadas a partir dela, também acabam por não se distanciarem da sua raiz geradora, mesmo aqueles que protestaram contra ela. Transformaram-se os pagãos em algo importante para a manutenção da paz e da ordem do império.
Conforme Cambi (2004, p. 129) na Idade Média,

(...) caracterizados por uma profunda regressão da civilização e pelo retorno a condições de vida de tipo arcaico: uma economia de subsistência, uma sociedade regulada pela dependência e pela fidelidade de formas de quase escravidão, uma técnica bloqueada, uma elaboração cultural repetitiva e reduzida, um tipo de relações internacionais rarefeitas e inseguras, porém marcadas também por migrações de povos, por conflitos de etnias, por explosões de pauperismo.
Na Idade Média fortaleceram-se os monastérios, que influenciaram os modelos das escolas atuais, se dedicavam a transferir educação teológica e filosofias que alimentavam e mantinham pensamentos fundamentados nas construções bíblicas.
Sobre Idade Média e Moderna, Durant (1942, p. 123), “A proporção que o saber aumentava, o medo diminuía; os homens já penavam menos em adorar o desconhecido e mais em triunfar sobre ele. Todas as energias vitais se reanimavam numa confiança nova; derribavam-se barreiras; não havia agora limites para os cometimentos humanos.
Para Cambi (2004, p. 130), “A nova estrutura educativa elaborada pelo cristianismo, aquela que, talvez, mais profundamente – e historicamente – deixou uma marca fundamental no Ocidente foi o mosteiro”.

Essa instituição veio se fixando como um lugar de formação, constuído segundo um modelo que orientava a vida espiritual no sentido religioso e que submetia o processo formativo ao princípio da ascese (da renúncia e da mortificação), necessário para purgar e disciplinar a vida interior das tormentas das paixões e submetê-la ao guia da razão e da fé (Cambi, 2004, p. 130).

Da cultura se estabeleceram os primeiros passos da construção de uma educação tendo como modelos o passado, com suas diversas influências.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Nascimento do simbólico

Símbolos são aqueles capazes de preencher todas as necessidades humanas com espíritos, almas e deuses. Substituindo desde os passados mais remotos com figuras, imagens e pinturas, tudo aquilo que povoa o cotidiano da sociedade. É o que impulsiona o ser humano, para frente se for positivo criando expectativas de vida espiritual.
Os símbolos para Campbell (2004, p. 24), quando discute Jung, faz uma distinção entre símbolo e sinal, um sinal é uma referência a algo que é conhecido ou possível de ser conhecido de uma maneira perfeitamente racional (...). O sinal “indica” um local cognoscível, físico. Mas um símbolo – um símbolo mítico – não se refere a algo conhecido ou possível de ser conhecido de maneira racional.
Podem ser aqueles que se destacavam por algum motivo.
De acordo com o Livro do Êxodo, Moisés teria recebido os Dez Mandamentos. E entre os mandamentos há o que se refere à manutenção do monoteísmo, ponto de honra para os hebreus, não para os cristãos e outras religiões que utilizam substituto para Ele. Mas os homens se mantiveram e se mantêm em total ausência deste unitarismo e com a mesma condição de sua natureza, acreditam em várias forças, como nossos antepassados que colocavam em todas as forças naturais, a figura de deuses.
Exemplos: no trovão, nas matas, nas cachoeiras, nos rios, nos mares, nos astros, aonde se quer colocar a presença de Deus ou de deuses. Não bastou para as religiões o poder de Deus criar o Mundo, mas também de endeusar tudo aquilo criado por Ele, inclusive o homem. Homem, com capacidade de também se tornar deus, como os patriarcas, Moisés, Zaratustra, Buda, Jesus, os Papas, Maomé, Aitolás e depois destes, as instituições se fixaram em cima de suas soberanias, não permitindo o nascimento de nenhum outro homem capaz de falar com Deus.
Se acontecer isto com outro homem, este será considerado louco.
As próprias escrituras não aceitam céticos em seus escritos, já que estes pensam e podem manifestar pensamentos divergentes daquilo que eles entendem como possibilidades do nascimento de críticas. Homens que pensam, não servem para se adaptar aos poderes já existentes. A não ser aqueles que pensam como eles pensam.
O homem vive a esperar a volta de Buda que criou como alternativas, a reencarnação. A esperar a volta de Cristo, com a Igreja Católica criando a ressurreição, a vinda do Messias, à vinda do Salvador, a vinda daquele que colocará a paz sobre o mundo, as vindas de tantas outras alternativas que sabem não acontecerá. Colocou o homem em eterna espera, em paralisação e desproveu alguns de suas próprias inteligências, ficando estes em eterna suspensão, deixando de viver e aproveitar a vida da forma que foram concebidos, como simplesmente cargas genéticas, capazes de propiciarem a continuação de suas espécies.
O homem que conseguiu se enquadrar como animal, mas não teve a capacidade racional ainda de pensar com a lógica, de um mundo que tem fim, de uma vida que termina no momento em que morre. Ele está aqui neste momento cumprindo simplesmente o seu papel genético, e que por mais alternativas que crie para se tornar eterno, é e será sempre em vão. A eternidade se consegue através de suas heranças históricas e genéticas. Aqueles que por bem ou por mal, dentro do que seria bom ou mal, deixaram suas marcas e se eternizaram.
Jesus, quando promoveu os movimentos contra os opressores, Buda percebeu as desigualdades, Moisés criou leis, Maomé se interessou pelas riquezas e criação de leis que possibilitariam a discussão do estabelecido, Hitler quando tentou dominar o mundo. Georges pai e filho, quando dominaram e expandiram o Império norte-americano e outros, são figuras, nada mais que figuras que conseguiram ficar registrados entre as histórias dos homens e nada mais do que isto.
Daí, a colocá-los como deuses, representantes de Deus ou endeusá-los a ponto de fazerem-se referências divinas, preces em seus nomes, orações, pregações, criações de templos, igrejas, mesquitas, sinagogas e tantas outras formas de devoção, podemos considerar que os males dos homens estão dentro de suas cabeças e não na vontade de Deus.
Pela sua natureza, o homem criou todas as alternativas quanto possíveis. Os patuás, sereias, cavaleiros contra serpentes, milagres dos mais diversos, sempre em nome de alguém, de santos e santas, e das mais diversas crenças.
Vejamos a quantidade de alternativas que são criadas, exemplos disto: meias luas, sóis, estrelas, cruzes, velas, imagens que possuem fisionomias de homens e mulheres, de animais, de demônios, de santos e santas, santíssima trindade, imaculadas, virgens, aqueles que abriram mãos de suas riquezas, templos, igrejas, que combinam com a riqueza, de onde se entende que Deus estaria ali.
Santos e Santas que se criaram das diversas necessidades humanas, dos seus egoísmos, de santos com nomes ou sem nomes, bastando para isto o momento em que se encontravam aqueles que o batizavam de acordo com as vontades, daqueles que dominavam determinados períodos da história. Exemplos: Nossa Senhora Aparecida, porque apareceu? Nossa Senhora da Glória, porque glorificou? O que? Dos Navegantes, por que navegava? Das Graças, por que concebia graças? Dos Perdidos, por que ajudava que se encontrava nestas condições? Dos prazeres, dos desterrados, dos mares, da vitória, da guerra, do trovão, das tempestades, dos raios. Senhor do Bom Fim, Senhor Morto, Senhor todo poderoso, glória a ti senhor do dinheiro, dos pobres, dos desvalidos, dos miseráveis, dos sem fé, daqueles que acreditam em sua volta, das dores, do sofrimento, dos achados, dos perdidos, das virgens, dos Rocios, das Fátimas e outros tantos.
Para Erasmo de Rotterdam (2001, p. 56),

é preciso, sim, é preciso ter nascido sob um particular auspício dos deuses para saborear tão doces quimeras. E o melhor é que nunca se fartam de ouvir semelhantes patranhas. Os milagres, os espectros, os duendes, os fantasmas, o inferno, e mil outras visões dessa natureza, são assunto mais comum das conversas do vulgo ignorante, sendo que, quanto mais extraordinárias são essas coisas, com tanto maior prazer são elas ouvidas e facilmente acreditadas. E não penseis que tais histórias se contem apenas para iludir as horas de aborrecimento: tornam-se, na boca dos monarcas e dos pregadores, um meio de tirar proveito da crendice popular.

É possível vendo-se com uma visão mais crítica, que todas as alternativas se fizerem necessárias para se livrar os sofrimentos da carne. Estas são construídas, em qualquer momento por aquele que enfrenta determinadas situações e a partir daí outros passam a segui-las até o momento em que surgem as construções e beatificações de tais atos.
Ainda para Erasmo de Rotterdam, (2001, p. 57);

A essa espécie podem agregar-se, a justo título, os ridículos e originais supersticiosos, os quais, toda vez que têm a sorte de ver alguma estátua de madeira ou alguma imagem do seu polifêmico São Cristóvão, ficam convencidos de que nesse dia não poderão morrer. Soldados há que, depois de uma pequena prece diante da imagem de Santa Bárbara, ficam certos de que sairão ilesos da batalha. Alguns acreditam que invocando Santo Erasmo em certos dias, com certas orações e à luz de certas lamparinas, seja possível fazer grande fortuna em pouco tempo. E que direi do hercúleo São Jorge, que para esses supersticiosos faz as vezes de um novo Hipólito? Na verdade, não se pode deixar de rir diante de sua devoção, que consiste em ornar pomposamente o cavalo do santo e quase em prostrar-se diante do animal assim enfeitado, para o adorá-lo. Fazem questão absoluta de conservar o favor e a proteção do cavaleiro por meio de uma oferta, sendo inviolável para eles o juramento que fazem pelo seu penacho.

Como é fácil substituir-se Deus. Basta para isto, construir-se qualquer condição paliativa e os homens passam a adotá-las imediatamente, fazendo suas oferendas e se entregando rapidamente a qualquer coisa, menos a sua inteligência, a sua lógica e a sua razão.
Racionais, aqueles que pensam. Difícil é avaliar as diferenças entre animais irracionais e aqueles que pensam, se aqueles que pensam e acham que pensam se dedicam a todo o momento a acreditar em coisas sobrenaturais, não humanas, abstratas e sem nenhuma razão.
Para materialização dos mitos conforme Morris (2004, p. 191) a religião conduziu a diversos subprodutos bizarros, tal como a crença numa “outra vida”, em que encontraríamos, finalmente, as figuras-deuses. Os deuses eram inevitavelmente impedidos de nos aparecerem na vida atual, mas essa falta podia ser corrigida depois da vida.

Para facilitar as coisas, desenvolveram-se as práticas mais estranhas em relação ao destino dos nossos corpos quando morremos. Se vamos finalmente encontrar os nossos senhores dominantes e todo-poderosos, devemos ir bem preparados para o acontecimento, o que justifica todos os requintes das cerimônias fúnebres. A religião também originou muito sofrimento e miséria desnecessária, sempre que se formalizou exagerada neste a sua aplicação e sempre que os “assistentes” profissionais das figuras-deuses não resistiram à tentação de lhes pedir emprestado um bocadinho do poder divino, para usar em proveito próprio (Morris, 2004, p.191).

Contudo, apesar da história da religião ser muito confusa, trata-se de um aspecto da nossa vida social sem o qual não podemos passar. Para Morris (2004, p. 192) a nossa natureza comum exige a execução e a participação em requintados rituais de grupo. Eliminam-se a “pompa e a circunstância”, deixa-se uma terrível lacuna cultural e a doutrinação não atingirá o profundo nível emocional que lhe é indispensável. Acontece ainda que certos tipos de crença sejam mais prejudiciais e estupidificantes do que outros, podendo mesmo desviar uma comunidade para tipos de comportamento rígidos que impeçam o respectivo desenvolvimento qualitativo.

Construções ideológicas

Fácil criarmos as dependências, difícil pensarmos para mudarmos a realidade humana. “O mito só é tardio enquanto fórmula; mas o seu conteúdo é arcaico e refere-se a sacramentos, isto é, a atos que pressupõem uma realidade absoluta, extra-humana (Eliade, 2000)”.
O homem tem a necessidade de se agarrar a determinados conceitos, que fazem partes de suas tribos, das suas relações sociais. Esta dependência vem a se fixar a partir de seu nascimento. Naquela faixa etária que compreende até a adolescência, o deixando estritamente vinculado a maternidade. Estes períodos de fragilidade e na busca de amparos de sustentação vão fazer com que dependendo de suas ansiedades, tenha na sua vida como determinante a crença nos mitos. E sempre que houver medos por qualquer coisa, ele ficará obrigado a recorrer a alternativas abstratas.
Para Morris (2004, p. 190). Como nenhum desses deuses existe numa forma corpórea, é caso para se perguntar por que foram inventados. Para encontrar a resposta, temos de regressar às nossas origens ancestrais. Antes de termos nos tornados caçadores cooperantes, devemos ter vivi¬do em grupos sociais semelhantes aos que ainda hoje se vêem em outras espécies de macacos e símios.

Nos casos típicos, cada grupo é dominado por um só macho. Este é ao mesmo tempo patrão e senhor todo-poderoso, e cada membro do grupo tem de o apaziguar ou de sofrer as conseqüências. O chefe é também o membro mais ativo na proteção do grupo contra os perigos exteriores e no ajuste de contendas entre os restantes membros. Durante toda a vida, cada membro do grupo gira à volta do animal dominante. E seu papel de detentor de poder absoluto dá-lhe uma posição semelhante à de um deus. Virando-nos agora para os nossos ante¬passados mais próximos, torna-se evidente que, com o desenvolvimento do espírito cooperativo, tão fundamental para a caça de grupo, a aplicação da autoridade do individuo dominante teve de ser muito limitada, para conservar a lealdade ativa (e não passiva) dos restantes membros. Era preciso que estes últimos quisessem ajudar o chefe, em vez de se limitarem a temê-lo. Para isso o chefe tinha de ser cada vez mais como “um dos outros”. O antigo macaco tirano teve de desaparecer, para ser substituído por um chefe macaco pelado, mais tolerante e cooperante (Morris (2004, p. 190).

Na busca por respostas, o homem sempre necessitou da presença abstrata de valores. Valores que preenchessem suas necessidades mais urgentes ou até garantias espirituais, egoístas, odiosas, amorosas, banais, capitais, de ser eterno. A eternização passou a fazer parte de seus cultos diários, não a eternização da espécie, mas sim aquela que lhe colocasse junto a Deus.
A metáfora passou a fazer parte do cotidiano humano, para Campbell (2004, p. 22), para unir as pessoas, para fixar a mente em alguma coisa, você precisa de uma metáfora que aponte para além dela mesma.
Mas que são figuras fechadas nela mesmas, só faz sentido para quem acredita, e estas manifestações se vinculam as formas simbólicas e entre elas Deus.
Tentamos entender por que o homem pensa que pode estar junto a Deus.
Avaliamos o que seria preciso para que isto acontecesse?
O quanto puro deveria ser este homem? Dentro dos conceitos religiosos. Vemos que nos aspectos imaculados, homens com a total ausência de pecados, isto seria possível?
Mas o que são pecados? Pecados são erros humanos cometidos por homens, que fugiram da imposição de regras. Erros e acertos que de acordo com as éticas e preceitos foram construídas e modeladas por aqueles que possuíam o poder. Poder capaz de definir o que seria certo ou errado com ou sem a presença de Deus, já que este não teria criado nenhuma regra ou ordem moral, capaz de organizar a sociedade.
Homens, portanto, se colocaram em seu lugar e criaram regras da forma que no entendimento deles seriam corretas, de acordo com a fase de evolução em que a aquela sociedade estava passando. Com isto, podemos dizer que se homens ficarem seguindo regras de sociedades antigas, o mundo ficará alienado a um processo já ocorrido e que moldou sociedades naqueles momentos de suas histórias, das suas tradições.
A bíblia ou qualquer livro que discutem história, contos, lendas de determinados períodos históricos, devem ser encarados como tais, porque a sociedade tende a ficar imobilizada e exposta por influências culturais de outros povos, que muitas vezes impedem o desenvolvimento natural, a criação de novas alternativas tecnológicas do homem.
Segundo Campbell (2004, p. 22), há apenas dois modos de interpretar erroneamente um mito, e a nossa civilização usou os dois. Um desses modos é pensar que o mito se refere a um fato geográfico ou histórico (...) o outro modo é achar que o mito se refere a um fato sobrenatural, ou a um evento real que vai acontecer no futuro – a ressurreição de Jesus, ou a segunda vinda.

Toda a tradição cristã se baseia nesses dois equívocos. O primeiro é a interpretação do mito como uma referência a fatos históricos; o segundo é a compreensão do mito como referência a fatos espirituais que existem num lugar invisível ou que deverão acontecer em algum momento futuro. È uma terrível tragédia. Esses equívocos de nosso mito nos fizeram perder o vocabulário do espírito (Campbell, 2004 p. 22).

O crente não se preocupa em identificar o local desta ressurreição ou renascimento. Um fato vinculado a uma alternativa de renascimento realizada e construído no oriente médio passa a ser uma realidade de povos que não cultuavam e nem estavam sobre os domínios das grandes navegações. E que só foram afetadas por elas após o século XV. Para eles não há a necessidade de justificativas sobre este renascimento e nem se pode se identificar quando isto acontecer.
As criações humanas que se volta a acreditar no sobrenatural são maiores nas áreas afetadas por cataclismos, principalmente naquelas que ficam envoltas com os processos naturais da modificação geológica do planeta. Sendo seus deuses mais terríveis na medida em que julgam os problemas humanos. Comum observar que as placas tectônicas que cruzam várias partes do planeta e se identificam com áreas como Mar Vermelho, Jerusalém, Tibet, México, Cordilheira dos Andes, Índia, etc., criaram deuses com maior facilidade motivada pelas necessidades de estarem sob a proteção destes. Enquanto que em lugares não tão envolvidos com problemas de modificação estrutural da terra, criaram deuses mais ligados à natureza, ou ligados ao sol e a lua, portanto mais maleáveis.
Nos governos de Constantino, se possibilitaram a inclusão da fé cristã (considerados pagãos) ao sistema doutrinário da Igreja, pela necessidade de atrelar-se ao Estado aqueles que o combatiam, e uma das formas foi a construção de uma religião que viesse de encontro aos anseios da manutenção da soberania romana. Chauí (2002. p. 29-30), relata que a filosofia patristica (do século I ao século VII), Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João e termina no século VIII, quando teve início a filosofia medieval.
A inclusão de idéias que seriam para a convergência da manutenção dos pensamentos mágicos, às necessidades de um governo que teria o papel de administrador da religião que ora nascia, a obrigação da introdução de idéias de acordo com os mitos necessários. Chauí, diz que foram incluídas as criações do mundo, do pecado originais, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, etc. Precisou também explicar como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade. introduziu, sobretudo com Santo Agostinho e Boécio, a idéia de “homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo.

A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros padres da Igreja para conciliar a nova religião — o cristianismo com o pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da nova verdade e converte-los a ela. A filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. Divide-se em patristica grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de Roma) e seus nomes mais importantes foram: Justino, Tertuliano, Atenágoras, Orígenes, Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio, São Gre¬gório Nazianzo, São João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho. Beda e Boécio (Chauí , 2002. pp. 29-30)

Todos aqueles que não são pertencentes à cultura romana, não defendem os interesses do grande ex-império, são considerados bárbaros, ou simplesmente pagãos. E continua Chaui;

para impor as idéias cristãs, os pares da igreja as transformaram em verdades reveladas por Deus (através da Bíblia e dos santos), que por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. Com isso, surge uma distinção, desconhecida pelos antigos, entre verdades reveladas ou da fé e verdades da razão ou humanas, isto é, entre verdades sobrenaturais e verdades naturais, as primeiras introduzindo a noção de conhecimento recebido por uma graça divina, superior ao simples conhecimento racional. Dessa forma, o grande tema de toda a filosofia patrística é o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar razão e fé, e, a esse respeito, havia três posições principais: 1. Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão (diziam eles: “Creio porque absurdo.”). 2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé (diziam eles: “Creio para compreender:”). 3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem misturar-se (a razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens no mundo; a fé, a tudo o que se refere a salvação da alma e à vida eterna futura) (Chauí , 2002, pp. 29 e 30).

Na educação não se defende simplesmente a fé, mas sim, as relações científicas proporcionadas pelo conhecimento humano.
Para William Sargant, a longa história da conversão religiosa oferece inúmeros exemplos de pessoas que apanham a Bíblia e de repente, encontram novos significados, brilhando em velhos e conhecidos textos e estando altamente influenciados por relações pessoais que julgam estar de acordo com suas necessidades.
Como que os homens pode chamar de Guerra Santa, guerras que teriam o poder de destruição de outros homens? Fazendo com que as expansões árabes ou as cruzadas pudessem envolver homens em conquistas e reconquistas, na busca por riquezas, poder, terras e, principalmente, Deus. O homem medieval pensava encontrar Deus através da violência de suas ações, adotando todo tipo de atitude para alcançar o seu objetivo. Sendo uma época de contrastes, essa busca por coisas tão opostas como riqueza e pobreza, prazer e martírio, por exemplo, deixam marcas profundas na humanidade que, apesar de já estar vivendo a séculos de distância da Idade Média possui, ainda, um espírito bastante medieval.
A mais violenta e extensa excitação religiosa que a história lembra, ocorreu em um dos períodos mais sombrios da história da Igreja. Poder religioso cristão católico que levou às Cruzadas para defesa de seus interesses em várias regiões da Europa, quando milhões de cristãos acreditando no que exclamavam – ‘é a vontade de Deus’ – abandonavam seus lares apenas para perecerem em terras estrangeiras.

Pelas muralhas e portas, derrubando, destruindo, ou prendendo fogo no que se lhe opunha, o exército vencedor penetra então na cidade. O fogo semeia por todas as partes a desolação e a morte, o luto e o horror, suas companheiras. O sangue forma lagos ou corre em arroios que arrastam no seu curso cadáveres e moribundos. (Torquato Tasso - Jerusalém Libertada, Canto XVIII, 1575).

Salmon (2003) insiste neste ponto com muito vigor, acrescentando: Quem dirá que aquele movimento (as Cruzadas) foi só superstição e fanatismo, pois dele participaram os melhores e mais devotos da época...? No entanto, o resultado mostrou como aquele grande movimento foi promovido meramente por causas humanas;

isso porque não podemos acreditar que Deus seduzisse aquelas grandes multidões com falsas promessas e as levasse para perecer miseravelmente em uma terra distante. Vemos assim que a excitação religiosa pode existir sem conhecimento religioso.

A salvação sempre foi a grande dúvida e o grande sonho da cristandade medieval, mas esta foi por muito tempo entendida como coletiva; um povo – o povo escolhido – seria salvo, e este povo obviamente deveria ser constituído pelos seguidores do cristianismo.
As influências culturais, de determinados períodos ou a própria vontade de poder, de dominar, de tomar, de invadir, são inerentes aos próprios homens e não de Deus. No entanto, a história da espiritualidade medieval apresenta uma tendência que se deve destacar como sendo uma das mais importantes: a personalização da fé religiosa, ou seja, os fiéis percebem que, para entrar em contato com o sobrenatural, é preciso que seja através de gestos e a personalização de símbolos.

Subordinação a um deus ou a deuses

A dominação dos deuses sobre os homens se estabeleceu desde os inícios das lideranças. No principio os líderes criaram leis, regras para ajustarem os processos de dominação. Todas as religiões inventadas e colocadas em práticas pelos homens tiveram como propósitos a subjugação, o não pensar, impedir de educacionalmente se formarem críticas as estruturas. Portanto, uma educação liberada e dissociada das culturas nunca foi possível de se estabelecer, porque os próprios profissionais são oriundos desta sociedade que na maioria das vezes não reflete a sua própria situação. Dentro das educações ocidentais em sua maioria a cristã, se estabeleceu um vínculo com a ordem da Igreja Romana.
Podemos ver em uma citação de Luigi Cascioli (2006);

É através de leis que foram impostas, e não por uma experiência pessoal, que eu conheci o pecado “diz Paulo aos Corintios”, e a Igreja confirma a exclusão da razão na busca do conhecimento decretando: “Degenerados serão aqueles que buscarão a verdade fora e mais adiante de minhas leis”. De outro lugar o mesmo Cristo que disse “Bem aventurados aqueles que crêem sem compreender, beatos os pobres de espírito porque deles será o reino dos céus”. Negando o livre arbítrio, negando ao homem a possibilidade de conhecer o que é mau e aquele que conhecer o bem através das experiências. O cristianismo obriga os homens a um estado de imaturidade, direi de infantilismo, tal a permitir de se elevar os braços como crianças rendidas, dóceis das ameaças a severas punições, sobre vagões de um trem sem janelas, que seguem um itinerário estabelecido, terminando em um abismo representado pelo nada e no qual se põe como recompensa de uma obediência cega e insensata, a obediência eterna. Esta é a moralidade verdadeira do cristianismo do qual derivam todos os males que atormentam a sociedade: impedir os homens de amadurecer através da própria experiência. (Luigi Cascioli é ex-seminarista, convicto ateu, e colocando em julgamento na Itália a existência de Jesus através dos tribunais (http://www.luigicascioli.it/ateismo_spa.php).

De acordo com a citação o Novo Testamento através do apóstolo Paulo não se deve dar educação ao povo, porque estes estarão distantes da fé. Portanto, não terão direitos aos benefícios dos céus.

Como se formam os Mitos

Os mitos nascem a partir da necessidade de simbolização, gerando crenças, dando formas e significados, se identificando com a natureza.
Interferindo no pensar, na elaboração de idéias, sobrepondo-se às realidades.
São materializações da consciência construídas a partir de determinadas dúvidas, pelas ausências de respostas, pelo desconhecimento. É a eterna busca de conhecimentos, ou não, que simplesmente são superadas pela transformação de situações irreais em verdadeiras.
São afirmações de conceitos necessários aos humanos, que adquirem formas e coerências dentro das relações e adoração dos símbolos. É a passagem do pensar a tornar algo em concreto. Os conhecimentos empíricos são considerados como verdadeiros, sem a necessidade de comprovação científica, se comprova tudo através da fé, a expressão natural do homem tida como verdadeira, independente de questionamentos.
De acordo com Francis Bacon apud Durant (1942, p. 146), “Nossos pensamentos são mais imagens nossas, do que dos objetos respectivos. Por exemplo: “a inteligência humana, devido á sua natureza peculiar, facilmente admite a existência de maior grau de ordem e regularidade nas coisas no que na realidade existe...”.
Os ídolos são criados a partir de necessidades e transformados em estátuas, que peregrinam sobre os humanos, adorados e idolatrados como se pudessem resolver os anseios e problemas da sociedade.
A História tem fundamental importância na construção crítica de uma sociedade, mostrando o quanto ideologias dominam e predominam sobre a humanidade. Estas construções fazem parte de um inconsciente, que poucos conseguem superá-las e analisá-las. Só através do estudo científico, livre de dogmas, concebido de uma estruturação lógica, independente, racional saindo-se do censo comum, podem-se construir outras visões da condição natural do ser humano.
As estruturas de lideranças sempre existiram desde o momento em que os grupos organizaram-se. É um movimento próprio dos animais a necessidade de lideres, sentindo-se mais fortes quando influenciados por hierarquias, transferem seus conhecimentos através da história falada, contada pelos mais velhos, pelos mais experientes. Mas a partir da escrita, estruturou-se uma linguagem mais uniforme, permitindo que as histórias ficassem menos envolvidas pelas sensibilidades individuais, dando-se uma condição mais concreta daquilo que se entendia ser as primeiras regras de uma sociedade. Como as sociedades dependem de sentirem-se protegidas, surgiram grupos maiores de dominação, agora com poderes materiais, mas sob as influências de seres sobrenaturais, criando, a partir destas escritas, personalidades capazes de influenciar no consciente e inconsciente.
Antes mesmo da escrita e posterior a ela, nasceram diversos mitos, ritos, formas de enterrar os mortos, a disposição dos corpos, as formas de veneração. O nascimento como algo definitivamente envolvido por Deus ou deuses. O sobrenatural atrelado ao homem. O patriarcalismo foi fruto destes momentos. O antepassado sendo o reflexo das histórias, da adoração, da criação de deuses e semideuses. A permissão dos contatos carnais de homens e mulheres com seus deuses e destes, o nascimento de novos, que a cultura tratou de colocá-los como deuses. De sistemas politeístas a monoteístas. De politeístas, que aceitavam vários deuses, desde antepassados até provenientes da natureza.
As comunidades se organizavam através de castas que iam desde o governante, o sacerdote, tendo por funcionalidade o comercial e mercante, além dos camponeses trabalhadores, ligados a uma cidade-estado.
A necessidade de explorar o poder através da imposição dos medos, já passava a ser utilizada nestas pequenas comunidades. O medo que conseguiu produzir deuses, o medo do desconhecido que propiciou o surgimento dos mais diversos mitos. As faltas de respostas que fez com que pequenos ou grandes grupos construíssem instituições capazes da dominação. As certezas abstratas que foram construídas a partir destes modelos de sociedades.
A superioridade muscular, quando desprendida de tecnologias, acabava por incentivar a criação de mitos.
Na própria formação das escrituras, a ideologia empregada já era a de dominação, visto que os próprios hebreus saíram de lugares considerados férteis, em busca de paraísos. Muitos saíram das regiões mesopotâmicas por causa das mais diversas invasões, ou em função das próprias dominações realizadas por seus líderes em busca de liberdade, mas nunca livres da contaminação dos mitos, dos seus deuses ou de um deus.
As necessidades de fixação se tornaram essenciais a partir da produção alimentar. Os humanos sedentarizam-se e constroem seus templos dedicados a aqueles que o dominarão eternamente.
As formações das Cidades-Estados foram momentos que os poderes espirituais e temporais se uniram. Sob o olhar dos governantes as cidades eram as caras de seu deus. Exemplo típico disto são religiões que funcionam até os dias atuais, onde os poderes espirituais e temporais se concentram em um único homem.
O homem pode perceber seu envolvimento com o diferente, mas perde a noção deste quando passa a viver intensamente as novas propostas. Em um determinado momento fica tão envolvido que suas análises deixam de fazer críticas. A absorvição é total.
Para se construir mitos bastam haverem necessidades. O cérebro humano precisa destes para se reconciliar consigo próprio. É mais fácil se enganar, do que buscar a verdade. E é difícil viver sem ilusões.
Para Freud apud Droguett (2000, p. 84) este sem-sentido essencial da linguagem religiosa, esta falta absoluta de reparo racional, faz-nos pensar que a religião, nas palavras de Freud, ao ser um erro, é um erro muito grave,

como erro, todo este jogo ambíguo entre signos, símbolos e realidade é grande demais para ser real: trata-se de um delírio da verdade. O que acontece é que fora do âmbito da fé falta a técnica de uso das imagens que o crente possui, apreendidas, como todas, em forma de vida determinada e no jogo inerente à linguagem.

Na citação do professor Leuba (1929, p. 32),

o terreno da convicção específica em dogmas religiosos é, portanto, uma experiência afetiva (emocional). Os objetos de fé podem mesmo ser absurdos; a corrente afetiva fará com que eles flutuem e lhes dará uma certeza inabalável. Quanto mais surpreendente a experiência afetiva, quanto menos explicável ela pareça, tanto mais fácil é fazer dela a transmissora de noções infundadas.

O mito tem haver com as potencialidades de cada lugar e sobre as ópticas de cada povo. Há uma tendência a se valorizar os locais que se conhece, e quando estes não oferecem todas as necessidades básicas, começa-se a imaginar outros lugares que possam preencher estas faltas. Florescendo as utopias.
Os que vivem destas relações não distinguem a diferença entre realidade e ilusão, existe a coerência dentro daquilo em que acreditam não se preocupam em saber se há o diferente. O mundo se limita a ser aquilo que conhecem. Não há necessidade de procurar respostas, já que estas estão disponíveis na própria natureza.
Para Chauí (2002, p. 39), durante a Idade Média as verdades só eram consideradas verdadeiras quando fundamentadas em um Papa, um Santo, Aristóteles ou Platão. Ficando difícil ao homem comum estabelecer diferenças sociais, principalmente às escritas e telas como verdadeiras em uma sociedade obrigada a crer nas crenças de seus senhores, além de estar na educação limitada a poucos.
Hoje ainda tais pensamentos são mantidos, e os poderes das instituições religiosas exercem estas funções, da manutenção da mentalidade humana fundamentada sobre o pensamento primitivo onde os símbolos lhes dão todas as respostas para seus questionamentos.