quarta-feira, 9 de março de 2011

A CASCA DO OVO - "A história de Galileu - um jovem em busca de respostas" Cap. três

trabalhava – o seu primeiro emprego foi de atribuições correlatas, fazia de tudo, lavava a loja, ia aos bancos, entregava produtos (carregando muitas vezes nas costas), instalava produtos, buscava alimentos ou lanches para colegas seus, e que muitas das vezes só podia sentir o cheiro, mas, não podia comprar, seu salário na época era o de meio salário mínimo, porque era menor, para fazer cursinhos ia a pé mais ou menos dez quilômetros até o local de preparação, muitas vezes correndo, era magro de dar dó, no retorno para casa a empresa de ônibus permitia que ele viesse na condição de cobrador de ônibus, com isso não cobravam a passagem dele, após acertar as contas chegava em casa após às 23;30 horas, estudava o supletivo, cursava técnico em rádio e TV aos sábados. Fumava cigarros escondidos quando conseguia filar algum. Com poucas roupas e poucos recursos frequentava clubes quando lhe emprestavam dinheiro, morava na casa do pai. Sendo que muitas vezes dormia na casa de seu grande amigo, onde tudo era farto. O seu amigo por ser de oriundo de famílias alemãs, preservavam pelo exagero da comida.

Capitulo Quatro

Quando completara quinze anos, naquela época os jovens com essa idade deveriam ser machos, ter experiências sexuais com uma mulher, na empresa em que trabalhava já havia uma decisão, todos que completassem os quinze anos, automaticamente eram levados à zona de prostituição, com ele não foi diferente, chegou o dia dos quinze anos, neste dia ele decidiu não falar que estava fazendo aniversário, muito nervoso ficou na sua, quando de repente vieram avisá-lo que o dia tinha chegado, não sabia que havia um controle muito sério para esse assunto. Os funcionários e chefias se cotizavam e o dinheiro era entregue para um encarregado de levar o menino à zona. Foi um dia apavorante, passava muito rápido, e os tremores não cessavam, pedia mentalmente para que esquecessem dele, mas, não adiantou quando o expediente encerrou o encarregado veio buscá-lo, e lá saíram pelo centro da cidade até o local, Galileu estava com as pernas frouxas, mal tinha forças para subir as escadas, foi meio que carregado, chegando ao andar mostraram ele para uma prostituta com uns 45 anos, que o conduziu para o quarto, não sabia o que fazer, não conseguia sequer ter desejos por aquela velha muito usada, ela puxou-o para a cama, e vendo que daquele menino não sairia nada, pegou com sua própria mão e fez o que tinha que fazer, na saída recebeu o dinheiro do encarregado, e Galileu agora se sentindo homem, passou a ver como era realmente o mundo. Um dia ao lado de outro menino na empresa, lembro que aquele menino tinha feito quinze anos, por aqueles dias, e perguntou-lhe como foi a sua primeira vez, quando de imediato ele respondeu foi excelente, fui lá com o encarregado e me deram uma menina muito linda, talvez uns 17 ou 18 anos, para você ver, foi tão bom, que ainda hoje passado sete dias continuo pingando. Galileu diante disso ficou muito decepcionado, quando foi para ele deram uma velha e agora para o outro deram uma moça, ficou irritado e foi reclamar com o chefe. O Chefe de pronto foi ver porque o outro menino ainda continuava pingando e descobriram que se tratava de uma baita gonorreia.
Galileu quando ainda jovem muito religioso, procurava ir à igreja católica, algumas práticas em centros espíritas e também um amigo luterano e juntamente com ele ia aos cultos, quase chegou a condição da presidência jovem dessa igreja. Mas, conseguiu seu intento, chegou a presidente material de um Centro de Candomblé. Tinha as crenças de sua idade, que os pecados existiam, que também podia se redimir de alguns, que poderia conquistar espaço no céu. Que seria recompensado pelas suas atitudes boas, ou negligenciado pelas más. Lia a Bíblia, vivia em um mundo cristão. Mal sabia ele, que sua crença se limitava a um quinto do que a sociedade humana acredita. Que o seu mundo cristão, não passava de um mundinho, e da mesma forma que pensava estar certo, outros bilhões de seres humanos também em seus mundinhos pensavam estarem certo. Também acreditavam em existências após a morte, na vinda de messias, salvadores, apocalipses, reencarnações, participava de quermesses, seguia a pé junto com devotos, participava das datas festivas de santas e santos, acendia velas nos dias das almas, ou nas viradas do ano, tinha também a crença na eternidade da alma, na existência de entidades que dariam a eles liberdades, que não podiam ser conquistadas na terra, nos anjos e demônios que se preocupavam com os humanos, nas facilidades de outras vidas ou nos paraísos criados pelas mentes humanas, nas suas utopias e devaneios que lhes impedem de viverem no mundo da razão, espaços só conquistados por aqueles que perdem a esperança na humanidade.

Crescia e se formava sem perceber que as qualidades que procurava ter, nada mais eram do que atender a demandas dos governos que perdidos em suas corrupções precisavam de mão-de-obra para atender a organismos internacionais. Precisavam de pessoas que não pensassem e servissem a modelos econômicos de extração da matéria prima, da montagem de produtos, de terem habilidades mínimas para consertar o que montavam, e quando estes pensassem se é que teriam essa possibilidade, estivessem tão preocupados com a manutenção sua e de suas famílias que ao final dos expedientes ainda fossem atrás de maiores conhecimentos, ou esgotados sentarem à frente de uma televisão para verem novelas, esportes, ou programas de culturas inúteis fornecidos pelos meios de comunicação.

Pensar, nem pensar, algo que a sociedade não faz, melhor viver acomodado, dentro de seus mundinhos miseráveis, que não interferem nas políticas de exclusão – por não saberem o que é exclusão, em um mundo onde as drogas correm livremente quando pagam impostos, ou quando não pagam devem ser mantidas para anestesiar a sociedade. Os jovens contribuem infinitamente com isso, e o fazem muito bem. Porque deles o que se esperar? Quanto mais drogados estiverem, menos vão atuar como cidadãos, e ainda quando se libertarem, se é que se libertarão, poderão em suas igrejas darem depoimentos da liberdade que agora encontraram com Jesus, mas, enganam-se porque agora terão igualmente suas mentes afetadas por outras drogas.
Na Mídia nada era diferente, não se discutiam coisas que trouxessem a liberdade, porque a sociedade não quer esse tipo de discussão, se discute a vida dos outros, ficam repetindo intensamente o que se passa nas novelas, as rádios também tinham espaços para isso, os jornais dedicavam espaços para o zodíaco, discutirem as mazelas humanas, com seus assaltos e a violência familiar, de certa forma obrigam a sociedade a não pensar, porque falar da vida alheia é muito mais interessante, do que se educar, refletir, ler um livro, falar com outros sobre os avanços tecnológicos, do domínio do capital sobre a nossa servidão.

Capítulo quinto

Galileu já trabalhava á cinco anos, se encontrava agora com dezoito, vivia sempre a procura de alguém, que em seu inconsciente pensava existir, talvez alguém que lhe desse aquilo que até então não tinha, carinho e amor. Vivia a procurar nas meninas e moças, algum tipo de ideal, que não sabia exatamente como era. Porque materializar aquilo que não se tem, é difícil, mas, sabia que iria encontrar.
Passaram mais um ano e meio e de repente encontrou uma moça oriunda de família muito pobre, mas que lhe preenchia sua alma de possibilidades, ela muito jovem ainda com apenas quatorze anos, e que talvez pela sua pureza, se viu cativado por ela, passou a amá-la, casaram-se quando ele estava prestes a fazer vinte e um anos.
Mas, voltemos um pouco no tempo. Estava Galileu com dezoito para dezenove anos e foi servir ao exército pelas exigências da lei, não queria passar por um desajeitado, e diziam que o exército o transformaria num homem. Como se a vida já não lhe tivesse causado tanta experiência.
Foi um período de muitas dificuldades, vivíamos em uma Ditadura Militar, Galileu, não conhecia nada de política, o país já vinha pressionado pelos militares desde os anos de 1964, e agora nos encontrávamos em 1975, não sabia nem o que se passava, nunca lhe tinham dito nada a respeito, sua avó o mais próximo que chegara, foi dizer que havia um tal de cavalo branco, pessoa que depois pude imaginar se tratar de um ex-presidente morto em um acidente de avião e que deixará minha avó muito feliz quando soube que ele morrera. Mas, imagino que os jovens que entraram para o exército naquela época ainda não adquiriram conhecimentos suficientes sobre a sociedade humana, seus jogos de interesses, obsessão pelo poder, e eram facilmente influenciados, fazendo coisas que atendiam aos interesses de seus governantes, nem sequer imaginavam que poderiam ser levados a morte quando em combates. Porque eram utilizados pela sua vitalidade, suas vaidades, seus pensamentos de super-herói, imaginavam-se de corpos fechados e dentro de suas ignorâncias da realidade do seu mundo, procuravam mostrar mais do que são. Pensam ser imortais, e nesse pensamento imortal, creem poderem fazer tudo.